Dias atrás, a Academia Brasileira de Letras registrou, em sessão, o trigésimo aniversário do ingresso de Arnaldo Niskier, em seu quadro de sócios. É sempre alegre anotar tempo de vida acadêmica, ainda mais se o tempo vai a alongar-se. Nem sempre se chega com o calibre de moço para aquelas cadeiras, o que proporciona mais anos por lá. Há os episódios cruéis da trajetória curta, como a de Guimarães Rosa medida em horas. E há as longas, frutíferas, como a de Josué Montello. Arnaldo Niskier vai fazendo número entre os mais longevos em exercício acadêmico. Felizmente.
A Academia tem se beneficiado do seu acadêmico. É presente, é partícipe, é orgulhoso da sua imortal condição.
Niskier é homem de atitudes. Toma partido, batalha pelas ideias e, algumas vezes, é humano e exagera. Porém nada demasiado. Reconhece equívocos e cresce ainda mais pelo temperamento altivo.
No tempo de Presidente deixou o que costumo chamar de impressões digitais. Um ou outro episódio viveu em que errou, mas sua trajetória incontestável é de relevantes serviços à Casa.
Dessa época gosto de lembrar a inovadora incorporação de um lusófono africano ao quadro de Sócios Correspondentes. Era incrível que a Casa, até então, não tivesse posto os olhos na rica literatura que se produzia em português na África.
Na terra de Pepetela, de Craveirinha, de Onésimo, de Agualusa, de tanta gente boa era imperioso que a ABL acolhesse um deles em seus quadros. Foi assim que resultou consagrado o nome do moçambicano Mia Couto, escritor hoje admirado como um grande na literatura mundial. Depois de Mia Couto, necessariamente, vieram outros. Àquela época coincidia com o lançamento no Brasil do livro Terra Recôndita, onde Alberto da Costa e Silva, poeta, africanólogo, estupendo intelectual, traçou com linhas precisas a obra de Mia Couto.
Arnaldo Niskier é um obstinado guardião da língua e da cultura do Brasil, como aliás exige o Estatuto da ABL. Essa obstinação exercitou-a como Secretário de Estado, por diversas vezes em diferentes governos no Rio de Janeiro. A cidadania também é cuidada por ele no jornalismo, no CIEE, tal e qual o fez no Conselho Federal de Educação.
Toda quinta-feira lá está ele nas sessões ordinárias da ABL atento aos valores de que a Casa cuida. Nada escapa ao seu dinamismo de intelectual antenado. Moderno sem ser modernoso. Vigilante na preservação da tradição tanto quanto poroso às sugestões do contemporâneo. Insisto, é uma personalidade atenta à modernidade mas sem concessões às leniências do modernoso, ou seja, da novidade só pelo gosto algumas vezes exótico do diferente.
A gente, isto é, nós os confrades de Arnaldo Niskier, temos toda razão em dar parabéns para ele, nesta hora significativa e significante.
Jornal do Commercio (RJ), 8/4/2014