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Ninguém é de ninguém

 

O lançamento da candidatura do prefeito João Dória ao governo de São Paulo pode dar ao governador Geraldo Alckmin um palanque forte na base eleitoral do PSDB, mas a disputa entre os dois impede que se unam. No mínimo pelo receio de Alckmin de que Dória surja como um candidato imbatível e volte a incentivar setores tucanos a sonhar com uma troca de candidato à presidência da República.  

Neste período da janela partidária, vários políticos estão migrando para outras legendas, mas, por enquanto, nada disso está empolgando o eleitor. Estamos com uma falta de lideranças nacionais impressionante. Não há um candidato que apresente um projeto para o país, nenhuma liderança capaz de mudar a sensação de impotência do eleitor.

O único que empolga parte do eleitorado é Lula, um líder carismático e populista que fala de um passado que não existiu e de um futuro que não tem condições de resolver. E não será candidato. Os outros não empolgam ninguém. 

O PSDB conseguiu ter um candidato único na figura do governador Geraldo Alckmin, mas as pesquisas não ajudam sua caminhada. Poderá vir a ser o candidato do centro, unindo os demais partidos da base governista e até mesmo o MDB, mas apenas se não for atropelado por um nome do mesmo espectro político, como o presidente da Câmara Rodrigo Maia.

Este parece unificar momentaneamente o centro político, mas precisa crescer e aparecer nas pesquisas eleitorais. 

O MDB é o partido que sente mais essa sangria, o que é um paradoxo facilmente explicável.
Na política brasileira, o partido que está no governo, seja ele qual for, atrai grande número de adeptos. Mas o MDB tem tal precariedade em sua imagem pública, que está servindo de repelente à expectativa de poder dos candidatos.

O presidente Michel Temer não consegue se desvencilhar de acusações de corrupção, está novamente à voltas com investigações, o que fragiliza seu governo. Os partidos grandes também estão envoltos em desconfiança e encontram dificuldades nessa campanha presidencial, que será muito curta.

 A máquina partidária tradicional está perdendo muita força para os candidatos que têm menos apoio partidário, mas tem mais popularidade.A “candidatura” do “irregistrável” Lula já divide o PT, e fora dele, o partido não tem nome forte para concorrer. É improvável que sua popularidade ainda garanta a eleição de substituto apontado pelo grande líder, mesmo que ele continue sendo influente no seu eleitorado, que ronda os 30%.

Depois do que aconteceu com o governo de Dilma Rousseff, será difícil convencer eleitores menos fanatizados ou mais informados que outra escolha de Lula dará certo. Mas, como a campanha será muito fragmentada, é possível que um candidato que tenha 15% a 20% de votos chegue ao segundo turno. Mas dificilmente vencerá a eleição ao final.

  A insistência em manter a aparência de candidatura desmobiliza a esquerda e cria nichos partidários como a candidatura de Boulos no PSOL, que também é rejeitado pela parte do PSOL que quer ser vista como oposição inclusive a Lula e ao PT.

A melhor aposta para a esquerda seria Ciro Gomes, pelo PDT, que ainda consegue ampliar o eleitorado de Lula, e não limitá-lo como os demais nomes ofertados pelo PT. Mas o PT não abre mão de ser a liderança da esquerda. Mesmo que seja para perder.

A candidatura de Jair Bolsonaro, líder nos cenários sem Lula das pesquisas eleitorais, também encontra resistências estaduais do PSL, até porque está atraindo novos filiados de seu grupo que ocuparão o lugar dos que lá já estão e pensavam aproveitar a popularidade do novo líder.

A candidatura de Marina Silva busca recuperar o mínimo de apoio partidário que perdeu com a saída da Rede dos deputados Alessandro Molon e Aliel Machado, que deixaram o partido por questões ideológicas. Ainda mentalmente ligados ao PT, eles não se sentiam bem num partido que se distanciou dos representantes do mainstream político, seja PT seja PSDB.

Marina corre o risco de perder espaço nos debates eleitorais por não ter o número mínimo de cinco parlamentares. Como tem boa posição nas pesquisas, no entanto, dificilmente deixará de ter adesões suficientes para se manter no páreo, embora com menos dinheiro e tempo mínimo de televisão.

O Globo, 13/03/2018