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Nelson Werneck Sodré

 

Entre os centenários que, neste ano, estão sendo comemorados, destaco, o de um dos homens que mais me impressionaram pela sua cultura e dignidade.

Não o conhecia  pessoalmente, mas lia os seus livros com prazer e proveito. Logo no início da quartelada de 1964, estava preso numa das fortalezas da Guanabara, fora dos primeiros a ser punido pelos seus colegas de farda, pois se tratava de um general cujo pensamento desagradava aos homens que havíam tomado o poder.

Todos os que o conheceram tinham a certeza de que era um dos homens mais íntegros de nossa paisagem intelectual. Podiam até discordar dele, mas sabiam que Nelson Werneck Sodré (1911 - 1999) colocava, acima de tudo, a dignidade do ser humano, a sua e a dos outros. Sua obra abrange três segmentos interativos pela sua cultura de  fundo humanístico: a literatura, a sociologia e a história. Foi mestre nos três departamentos.

Tornou-se citação obrigatória de todos os pesquisadores que estudam o processo brasileiro como um todo, e não em seus departamentos estanques.

Um texto de Nelson Werneck Sodré sobre Machado de Assis ou sobre um dos nossos ciclos econômicos , se destaca pela abrangência de sua visão. Conhecia o geral e chegava ao particular. Sabia ver a árvore e a floresta.

Um dos líderes mais respeitados de nossa intelectualidade, nunca se deixou fascinar pela badalação inconsequente de certa época , nem pelo radicalismo carreirista que marcou a carreira de tantos. Nunca deixou de ser um ponto de referência do pensamento brasileiro. Retórico do nacionalismo, jamais se tornou xenófobo.

Recusou cargos, compensações e homenagens. Viveu austeramente. Formava o escalão mais consciente da esquerda que ele procurou ensinar, explicar e pela qual sacrificou  sua vida.

Diário da Manhã (GO), 19/5/2011