A morte de Nélida Piñón é para mim um golpe pessoal, tão estreita era a nossa amizade e tão profunda a admiração que lhe tinha. A conheci quando ainda estreávamos, eu tentando conciliar vocação e destino e ela com os passos largos que a fizeram rapidamente uma das maiores romancistas da língua portuguesa.
Não é preciso fazer um apanhado de sua obra colossal. Baste lembrar os reconhecimentos com nomes que dizem tudo: Juan Rulfo, Rosalía de Castro e Cervantes; ou que ganhou o maior prêmio da literatura espanhola. Sua obra expande-se do romance à memória, do conto ao ensaio, mas mantém-se vinculada a sua natureza de quase-migrante que a manteve brasileira, mas não a desfez galega, e ao seu profundo amor pela literatura.
Convivemos tantos anos… Sempre encarou a vida de frente, com suas circunstâncias, para citar Ortega y Gasset, sempre tirando delas as lições que sabiamente nos passava em sua obra.
Despedimo-nos dela, Marly e eu, com profunda tristeza, sabendo que deixa um imenso vazio na literatura hispano-americana — seu espaço era maior que o da literatura brasileira —, na Academia Brasileira de Letras e no nosso território afetivo. Saudade imensa!