Num dia de fevereiro de 1948 apresentei-me a Oswaldo Chateaubriand, irmão mais moço de Assis Chateaubriand, que me havia convidado para integrar o corpo diretivo das empresas Associadas em São Paulo. Imediatamente, Oswaldo se levantou de sua cadeira e me pegou pelo braço para conduzir-me a sala de dr. Assis, como era chamado o velho capitão por todos os funcionários das empresas. Eu ia entrar para onde me chamava a vocação.
De pronto, disse só que aguardava a visita de dois amigos, para irem fazer uma visita ao futuro Museu com o qual, acentuou o dinâmico dr. Assis, São Paulo seria dotado do melhor e mais rico museu da América Latina. Em pouco tempo, chegaram as visitas e fomos ao salão onde um casal preparava quadros para uma primeira exposição. Eram Pietro Maria Bardi e a encantadora esposa, que se ocupariam, de então em diante, do Museu de Arte, como passou a ser chamado. O Museu havia sido inaugurado em novembro de 1947.
O que foi a luta de Chateaubriand para criar o maior e melhor Museu da América Latina posso afirmar que sou um dos que sei, com perfeição, a luta destemida, implacável, reiterada, do dinâmico dr. Assis. Com seu poder midiático nas mãos, seu talento de jornalista e sua capacidade para pedir e envolver os escolhidos para contribuir, não teria dificuldade ou as dificuldades seriam vencidas em pouco tempo, como, de fato, foram amplamente derrotadas.
O Museu ergueu-se. Foi inaugurado pela rainha Elizabeth II, na sua visita a São Paulo, e os paulistas e turistas de todo o mundo passaram a conhecer um dos Museus melhor organizados, numa sede que é modelo de arquitetura única no mundo. O Museu tornou-se realidade. Mas Chateaubriand teve um derrame, que o impossibilitou de agir durante oito longos anos. Os seus sucessores, com a melhor boa vontade, não possuem sua força. O resultado é que o Museu está em crise. É preciso que nos unamos todos e o salvemos. Será imperdoável o Museu desaparecer, ou desfalcar-se de seu acervo para pagar dividas. Os paulistas devem unir-se e convidar outros brasileiros para esse processo, do que é de vital importância para as artes.
Diário do Comércio (São Paulo - SP) 02/08/2004