Um anjo torto disse para Drummond ao nascer: “Vai, Carlos! ser gauche na vida”. Já o meu ordenou: “Vai ser careca e otimista”.
Como diria outro poeta, “Deus é um cara gozador”. De fato, tinha o mundo inteiro, mas preferiu me jogar “na barriga da miséria” como bom brasileiro.
Não está fácil a vida de um otimista no Brasil, ainda mais no Rio de Janeiro. Tudo conspira a favor dos pessimistas, que não têm do que se queixar, pois há motivos de sobra. Eu só não sou um deles porque acho o pessimista um chato, que acaba torcendo para dar tudo errado e ele poder tripudiar depois: “Eu não disse!?” .
Mas, atenção, o meu otimismo não é daqueles que veem luz no fim do túnel quando são os faróis de um carro na contramão. Para mim, ele serve de antídoto em momentos como o de agora, em que se ouve cada vez mais gente reclamando: “Este país não tem jeito“, “só não me mudo porque não posso” (vendo os estragos feitos pelo furacão Irma em Miami, me pergunto se os cerca de 300 mil brasileiros que se mudaram para a Flórida acham que fizeram a opção certa).
Melhor, porém, do que usar as mazelas lá de fora como consolo, é lembrar que o nosso país já foi pior e que, apesar de tudo, bem ou mal, estamos avançando.
Nem é preciso recorrer à comparação com os terríveis anos de chumbo. Basta olhar para quando ainda não havia Lava-Jato. Em apenas três anos, ela promoveu uma revolução de costumes na política. O problema é que o resultado produziu essa inevitável exposição de vísceras que cheira mal e é desagradável de ver.
O país não está sangrando, como pensam alguns, está purgando. Do carnegão não sai mais sangue, e sim pus, aquela secreção expelida por um corpo infectado, já quase todo contaminado.
A corrupção no Brasil é uma bactéria que ataca governo e oposição, esquerda e direita, é suprapartidária e sistêmica.
Daí a sensação de que estamos vivendo o fim do mundo, quando talvez seja apenas o fim de um mundo que precisava mesmo acabar, o que não se faz de um dia para o outro.
O meu lado otimista quer acreditar que estamos assistindo ao estertor de um organismo agônico que ainda estrebucha, mas cujo desenlace é inexorável, ainda que possa demorar.
Essa esperança ganha força quando vejo, por exemplo, um juiz como Luís Roberto Barroso acreditar e ajudar no “esforço de desmontar esse pacto espúrio feito entre parte da iniciativa privada, parte do governo e parte do setor político”.
O processo é bipolar, ciclotímico, cheio de altos e baixos. Um dia é dos pessimistas, ao assistirem a Joesley garantir com arrogância que não seria preso. O outro é dos otimistas, vendo-o na cadeia e esperando que de lá não saia tão cedo.