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Nada de novo

 

RIO DE JANEIRO - Deve ser uma vocação esquisita. O Rio é bagunçado, parece que nada é levado a sério pelo carioca, mas sempre encontra um jeito de arrumar as coisas e arrumar-se. Dois meses antes da abertura do Pan, era voz geral que nada ficaria pronto para o encontro dos atletas das três Américas.


O mesmo já acontecera em outras ocasiões do passado. Lembro a Copa do Mundo de 1950, uma semana antes do primeiro jogo, com o Maracanã cheirando a cimento fresco, cheio de andaimes e operários, fui assistir a um jogo das seleções do Rio e de São Paulo. Diziam que era um "teste". Se as arquibancadas não despencassem com o peso dos torcedores, haveria Copa na semana seguinte.


Anos depois, houve a Rio-92. Mais de cem chefes de Estado e governo, com suas equipes e seguranças, não havia hospedagem para tanta gente, mas tudo funcionou, inaugurou-se até a Linha Vermelha que foi um tapete vermelho para os visitantes chegarem até a cidade. A violência ficou reduzida a batedores de carteira, ladrões das poucas galinhas que ainda persistem no subúrbio e maridos que sovaram mulheres prevaricadoras.


É possível que ainda apareçam episódios constrangedores para a cidade, mas a festa de abertura foi realmente uma festa, com os atrasos que fazem parte de nossa pontualidade cerimonial, muitos aplausos e cinco vaias que, somadas, poderiam entrar no livro dos recordes.


Evidente que o trânsito, atavicamente uma droga, piorou bastante. Quando dom João 6º desembarcou na praça 15, em 1808, trazendo uma corte inteira para cá, o carioca também reclamou, um deles, em crônica da época, gastou meia hora para ir, a pé, da rua do Ouvidor à rua Direita, atual Primeiro de Março, uma distância de menos de cem metros. Nada de novo sob o sol.


Folha de S. Paulo (SP) 17/7/2007