Joaquim Nabuco vai instalar-se, feito em bronze, definitivamente na praça em frente à Academia Brasileira de Letras, ao lado de Manuel Bandeira. Pernambuco não poderia almejar mais. Seu grande poeta e seu grande escritor-político, imagens protegidas em bronze, ficam juntos, como espécie de guarda suprema da Casa de Machado de Assis.
É bom ver Nabuco na rua. Ele foi um campeão das ruas, dos memoráveis discursos que o povo aplaudia endossando as suas teses de libertação.
Nabuco chamou o povo para as ruas, para os comícios de campanhas políticas e para a epopeia da libertação. O fidalgo fez-se povo para melhor conduzi-lo.
Nabuco teve oratória de salão e oratória de rua. Ninguém sabe qual a melhor. Admirável Nabuco, esse que tomava o significado das palavras para fazê-los mais significantes. Esse o segredo dos discursos que, infelizmente, só dispomos em textos.Imaginemos o que seria agora o prazer de ouvi-lo nos meios modernos de imagem e som, ressignificando seu esforço pela inserção social.
A Academia Brasileira de Letras está agradecida ao operoso prefeito Eduardo Paes e ao seu excepcionalmente competente secretário Carlos Osório pelo presente que nos deu,enriquecendo a paisagem da estatuária das ruas do Rio com a imagem de Nabuco. São ambos administradores atentos a descobertas e ressignificações da paisagem humana do Rio.
Agora, aguardemos a reação dos cariocas, tão finamente críticos. Gostarão? Quem sabe. O que importa é que o brasileiro do Rio vai poder ainda mais, olhando a estátua,valorizar os grandes homens que fertilizaram a nossa história com riquezas de idéias, vozes, gestos.
Nabuco certa feita disse assim: "Não fui feito para velho". Remoia os achaques da tal melhor idade com essa confissão. Como já está bronzeificado mundo afora e não apenas no Brasil e no seu Pernambuco,acredito que não reclamará nem mesmo ao ouvido de Bandeira (ou de S. Luzia na igrejinha vizinha) de que não foi feito para estátua.
Jornal do Commercio (RJ), 14/3/2011