Na semana passada, falei do mago do Tibete, que, além de mago, era magro e tinha poderes para explicar o passado e adivinhar o futuro, além de possuir outros tantos poderes para transformar pedras em pães, água em vinho e, no terreno das amenidades, fazer qualquer mulher, de qualquer raça, língua, cor e crença, despir-se, dançar e transar à vontade do freguês.
Nem sempre me levam a sério - eu mesmo não me levo muito a sério -, mas, desta vez, recebi dezenas de mensagens solicitando maiores detalhes sobre o mago. Curiosamente, meus correspondentes não se mostraram interessados em transformar pedras em pães ou água em vinho nem queriam explicações sobre o passado nem certezas sobre o futuro.Todos queriam aprender o macete de fazer as mulheres ficarem nuas, dançarem etc. etc.
Num esforço de reportagem (hoje diria: num esforço de investigação), obtive a fórmula usada pelo mago para conseguir tal intento. Não chega a ser uma novidade, pois se trata de uma velha receita de são Cipriano, famoso mago da antigüidade, personagem de um dos primeiros folhetins da humanidade, "A Edificante História de São Cipriano e Elvira no Deserto", da qual há um exemplar raríssimo (que dizem apócrifo) na biblioteca do Congresso em Washington.
Ingredientes: 30 gramas de raiz de salgueiro; duas medidas de sementes de saganha brava; três cabelos pubianos de uma negra, tirados com a raiz; 30 gramas de amendoim colhido à meia-noite de uma sexta-feira; cantáridas à vontade; uma coruja defumada e passada num ralador de coco.
Modo de preparar: tudo misturado, deixa-se ao relento por três noites sem lua. Se trovejar, maior será o efeito. Serve-se a poção obtida dois dias antes de a mulher escolhida entrar em período menstrual. Coloca-se no aparelho de som o "New York, New York" gravado por Frank Sinatra. Sirva-se à vontade. Se sobrar alguma coisa, não da poção, mas da mulher, podem me chamar.
Folha de São Paulo (São Paulo) 10/09/2005