A vitória do deputado do DEM Rodrigo Maia para a presidência da Câmara, sobretudo da maneira como aconteceu, reforça a mudança na tendência política do Congresso, reflexo do que já havia sido detectado no eleitorado na própria eleição presidencial, vencida por Dilma por menos de 3% de diferença.
O grupo político formado por PSDB DEM, PPS e PSB passou a ter o protagonismo, numa Câmara que nos últimos anos foi dominada por PT e PMDB. Progressivamente, a partir da vitória de 2002 em que apenas em Alagoas o PSDB venceu, a supremacia do PT foi sendo corroída por dissensos na base aliada e pela perda constante do apoio da classe média, que vira no PT uma saída para a nova política e combate à corrupção e, a partir do mensalão, desencantou-se.
O PT teve que fazer uma mudança de rota de influência, refugiando-se no eleitorado do nordeste e das pequenas cidades, onde os programas sociais, sobretudo o Bolsa-Família, tornaram-se seu grande instrumento político.
Foi para o nordeste que Lula se dirigiu recentemente em busca de apoio político, e é naquela região que o presidente interino Michel Temer tem seu pior desempenho, que de resto não é bom até o momento no país como um todo.
Não foi à toa, portanto, que Temer deu um aumento de 12,5% ao Bolsa-Família, maior que o previsto por Dilma, e gravou um vídeo dirigido especialmente aos que recebem o benefício. Já há indicações de que sua popularidade subiu um pouco depois desse anúncio, o que mostra o potencial político do Bolsa-Família para o governo, qualquer governo.
Dissolvida a aliança partidária que sustentou os governos petistas com a debandada do PMDB, o protagonismo no Congresso ficou não com o partido, mas com Eduardo Cunha na Câmara e Renan Calheiros no Senado. Embora representantes do PMDB, os dois têm um estilo político muito personalista que não transfere ao partido seus bônus, apenas seus ônus.
O Centrão, que na eleição de quarta-feira começou a se dissolver, foi uma arquitetura de Cunha para fortalecer sua influência. Os pequenos partidos que o compõem ganharam uma musculatura artificial, que só tinha peso político com a coordenação do ex- presidente da Câmara.
Hoje, o centro das negociações políticas passou a ser a antiga oposição aos governos petistas e mais, evidentemente, o PMDB, que ensaiou uma dissidência também artificial sob o comando de Lula, mas hoje já deve estar reunido em torno do poder de fato do presidente interino Michel Temer, que saiu fortalecido para apresentar ao Congresso as propostas de reformas estruturais de que o país necessita.
Impopulares elas são, e será preciso muita convicção e suporte político para levá-las a bom termo. Por isso mesmo o PT, embora demonstre o contrário, está ansioso por encerrar o episódio do impeachment para poder reassumir o papel de oposição.
Criaria maiores obstáculos se tivesse conseguido emplacar a candidatura de Marcelo Castro, que o próprio Temer classificou de “cavalo de Tróia” do petismo. Mas, na oposição, poderá denunciar todas as mazelas econômicas como se tivessem sido provocadas pelo interino tornado permanente.
O parecer do Ministério Público Federal de que não se caracteriza como empréstimo o financiamento da safra do Banco do Brasil não parece ter o poder que lhe confere o advogado de Dilma. É claro que é um dado positivo para a defesa, mas não o definitivo, pois existem vários outros estudos em direção contrária, inclusive no MP de Contas.
E essas discordâncias não são, com quer José Eduardo Cardozo, prova de que não é possível condenar Dilma. Como o julgamento é, sobretudo, político, basta que a maioria dos senadores tenda para um parecer e não para o outro, que a decisão estará tomada.
Principalmente por que outras acusações, que só não estão oficialmente colocadas por questões de interpretações da legislação, têm também seu peso no convencimento dos senadores. E são muitas as denúncias de corrupção na campanha eleitoral de 2014.