No momento, com Lula preso e Aécio reduzido à sua verdadeira miudeza, seus partidos derretendo e em meio à fedentina geral que emana do MDB, PP e assemelhados, o eleitor começa a avaliar as possíveis candidaturas que são ventiladas. Principalmente para a Presidência. A partir da dor de constatar que foi ludibriado.
Os que estavam de boa-fé, nos dois campos, viveram a experiência clássica do marido traído, quase em situação de caricatura. O eleitor de Lula passou anos em que tudo estava escancarado, os indícios eram evidentes desde o mensalão, mas se recusou a ver. Se conseguirem, alguns vão continuar fechando os olhos até a morte. Enganados para sempre. Já o eleitor de Aécio teve o choque de pegar o culpado com a boca na botija, em flagrante súbito. Teve mesmo um movimento sadio de mandar o traidor dormir no sofá da sala ou até sair de casa. Bem que Tasso tentou, sem sucesso. Mas não colou. Adiada a reação, agora o eleitor tem raiva e não passa a mão na cabeça.
As reações são diferentes, mas a situação é a mesma. Enxergando ou não, foram ambos traídos. Alguns, mansos, podem insistir na negação, ainda fingindo ignorância. Muitos, porém, se perguntam que rumo escolherão para seguir adiante. Sobretudo, em que companhia.
Os cidadãos de boa vontade podem partir de uma premissa: é inadiável diminuir a acintosa desigualdade que nos caracteriza como sociedade. A dúvida estaria na escolha dos caminhos para conseguir isso.
Algumas perguntas precisam ser respondidas pelos presidenciáveis. Para ter mais saúde, educação de qualidade, saneamento, infraestrutura etc, é preciso alocar recursos. De onde se pretende tirar? Vamos continuar sustentando infindáveis quadros de funcionários? E crescentes gastos futuros com servidores intocáveis? Como se situa o candidato, com clareza e objetividade, em relação à reforma da Previdência? E à tributária? Como encara o papel do Estado na economia? Quais suas propostas? Como pretende garantir medidas para que sobrevivamos em termos de segurança pública?
É obrigação dos jornalistas fazer a eles perguntas desse tipo em cada entrevista. Diretas. Sem a ingenuidade de engolir enrolação nas respostas. Afinal, nossa situação crítica tem tudo a ver com o fato de não termos feito reformas estruturantes fundamentais, como a eleitoral e a da Previdência, e de termos criado, ao longo dos anos, despesas obrigatórias para atender a setores específicos, cada um sem olhar para o lado, sem qualquer preocupação de conferir de onde vêm as receitas ou como se vai respeitar o Orçamento. E confundindo irresponsabilidade com inocência.
Os nomes que são jogados para o ar feito peças de malabarismo têm de dizer o que pensam a respeito. Mostrar a cara. Não podemos caminhar de olhos fechados para o matadouro onde seremos executados por políticas autoritárias e moralistas ou irresponsáveis e voluntaristas, francamente populistas e tantas vezes corruptas.
Nos últimos dias, pelo menos afloraram opiniões de alguns. Joaquim Barbosa, ciosamente discreto em revelar o que pensa, se deixou decifrar em alguns itens pela análise de atos passados, já que quando comandou o STF seguiu preceitos de mercado, reduzindo cargos de comissão e buscando na gestão pública algo próximo a um “capitalismo de verdade”. Mas foi para um partido que se opõe à reforma da Previdência e quer revogar a trabalhista. Como conciliar? Nunca foi testado em campanha, diante de provações de militância e perguntas incômodas da imprensa. Seu “pavio curto”, irritadiço e autoritário, será igual ao do Ciro, ou aquilo era só efeito da dor no quadril?
E Marina Silva agora falou. Comparou Bolsonaro a Darth Vader, elogiou a contribuição de Joaquim, acentuou que foi suja a campanha do PT contra ela. Parece que aprendeu, pois se recusa a fazer vista grossa a práticas condenáveis só porque vêm da esquerda. Com ênfase, insiste na sustentabilidade, na igualdade perante a lei, na necessidade de acabar com o foro privilegiado, na prisão após condenação em segunda instância, na crítica à política de benefícios com dinheiro público do BNDES, no autoritarismo que não respeita direitos humanos. Acena com a abertura do diálogo dentro do mesmo campo.
Fora isso, ouvem-se também as pessoas comuns, em todo canto, em manifestações de nojo, indignação e vergonha da atitude do Trio Calafrio da Segunda Turma do STF, no escárnio de querer deixar impune tanta corrupção. É até comovente ver como todo mundo dá palpites.
Um motorista de táxi, diante da discussão sobre presunção da inocência, foi categórico: “Tem mesmo muito presumido, eu acredito. Mas inocente? Essa não.”
Uma amiga ouviu na manicure um verdadeiro discurso contra essa “Justiça do disco arranhado”, com seus embargos dos embargos dos embargos dos embargos...
Mas o melhor comentário talvez seja o de quem, impotente diante dos três juízes que decidiram livrar Lula de Moro, parodiou o personagem de Lázaro Ramos em “Mister Brau”:
“Ai, eu fico me sentindo tão desempoderadozinho...”