Ontem foi o dia universal da mentira. Já me explicaram milhões de vezes as razões de uma data tão inútil, que pode funcionar para brincadeiras inocentes, mas sem equivalente no calendário: não há um dia dedicado à verdade. Até mesmo a comissão que foi criada para descobrir uma verdade recente parece que ainda não se entendeu e muita gente desconfia que nunca se chegará ao seu objetivo.
Todos os dias deviam ser da verdade há aquela belíssima frase do Evangelho, a cada dia basta a sua verdade, "sufficit diei malitia sua". Infelizmente, todos os dias, de certa forma, são destinados à mentira, algumas inocentes, até mesmo piedosas, o sujeito não passa daquela noite, mas as visitas louvam sua saúde e seu prognóstico.
Passados tantos anos, no último domingo, Geneton Moraes Neto entrevistou importante conselheiro da Casa Branca ao tempo de Bush. O assessor presidencial para combater o terrorismo disse o que todos já sabíamos, mas agora em tom que pode ser considerado oficial: o governo de Bush mentiu a respeito da invasão do Iraque, não havia armas de destruição em massa. Agredido pela Al Qaeda no 11 de Setembro, os Estados Unidos reagiram às cegas para mostrar que não eram vulneráveis ao terrorismo.
A mentira foi fartamente divulgada, dezenas de milhares de americanos e iraquianos morreram e continuam morrendo num dos crimes mais repugnantes de nosso tempo.
Temos agora os casos do Irã e da Coreia do Norte. De mentira em mentira, os Estados Unidos podem provocar uma guerra nuclear que não será de mentira, mas de verdade.
Um autor, cujo nome não me recordo agora, perguntou o que aconteceria se soasse um imenso sino no espaço e, a partir daí, só se pudesse dizer a verdade durante dez minutos. Haveria um suicídio universal.
Folha de S. Paulo (RJ), 2/4/2013