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Ministério Frankenstein

 

Filósofos antigos e modernos afirmam que toda comparação é falha: "Omnia comparatio claudicat". Mesmo assim, sem ser filósofo antigo ou moderno, repito a mesma frase fazendo uma comparação entre o primeiro dia de governo dos presidentes Juscelino Kubitschek e Michel Temer.

JK tomou posse e, no dia seguinte, aproveitando a presença de Richard Nixon, tomou um helicóptero e pousou em frente ao Copacabana Palace, onde o vice-presidente dos Estados Unidos, que viera para sua posse, estava hospedado. Levou-o a Volta Redonda, que estava ainda em seus princípios. Pediu uma ajuda de alguns milhões de dólares para duplicar a produção, pois desejava industrializar o Brasil.

Nixon levou o recado ao governo dos Estados Unidos e conseguiu a verba solicitada por JK. Este foi o primeiro dia de um presidente que, para tomar posse, precisou que dois mandatários da República fossem afastados. O país vivia, então, uma crise feroz por causa do suicídio recente de Getúlio Vargas.

Michel Temer tomou posse numa situação de crise bem mais amena que a de JK. Mesmo assim não teve o entusiasmo para iniciar um novo ciclo de desenvolvimento do Brasil. Passou (e continua passando) os primeiros dias de sua era armando um ministério bastante polêmico. Pode ser que dê certo, mas a convocação de seus auxiliares principais não inspira muita confiança.

Outra diferença atroz é o plano de 30 metas que JK levou para o seu governo, mais tarde criando a meta síntese que era Brasília. Temer tem planos mais modestos, ou não tem plano nenhum a não ser remendar com pedaços dos partidos que o apoiaram, formando um Frankenstein que não servirá para nada.

Não tenho a obrigação de ser um otimista, que no fundo é apenas um mal informado. Sendo pessimista, tudo para mim é lucro. 

Folha de São Paulo (RJ), 22/05/2016