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Ministério de coisa nenhuma

 

RIO DE JANEIRO - Nada assanha mais a mídia especializada do que uma reforma ministerial. É natural que fique assanhadíssima quando se forma um novo ministério a cada governo, ministério que, depois de formado, é sucessivamente reformado ao sabor das contingências e das exigências de cada situação.


Aqui do meu canto fico pasmo com os nomes que são lembrados, insinuados ou rotulados como indispensáveis à salvação da pátria.


E o pasmo é maior quando fico sabendo que determinado técnico ou político está cotado para dirigir as finanças, as obras públicas, as endemias rurais, a reforma agrária, a segurança pública e a Previdência Social. Deve tratar-se de um monstro capaz de administrar qualquer coisa, desde que seja ministro por conta da cota destinada a determinado partido que ajudou alguém a eleger-se.


Compreendo que o presidente, para cumprir os compromissos assumidos durante a campanha, aceite nomear um cidadão que nada tem a ver com a pasta. O que não compreendo é que o sujeito, muitas vezes um advogado de peso, um industrial bem-sucedido, um técnico de seguros, tope um ministério que vai cuidar da transposição do rio São Francisco ou sanear a dívida do INSS.


Felizmente, não pertencendo a nenhum partido, a nenhuma corrente de opinião a não ser a minha, não fui até agora lembrado para nenhum ministério, autarquia ou estatal. É um fato auspicioso para mim e para a nação.

Há tempos, num dos governos militares, um médico sanitarista chegou a ser cotado para o Ministério da Viação e Obras Públicas. E um engenheiro foi parar no Ministério da Educação.


Agora, num delírio pessoal de cronista sem assunto, se criarem um Ministério de Coisa Nenhuma, podem lembrar do meu nome.


Folha de S. Paulo (SP) 12/11/2006

Folha de S. Paulo (SP), 12/11/2006