Nos regimes parlamentaristas, dos quais a Inglaterra é a pátria, os ministérios são compactos, pois o primeiro-ministro é o presidente do conselho e não admite divergências que abalem o compromisso político. Já no regime presidencialista, temos visto que há divergências sem que o presidente, que também tem a função de um "primeiro-ministro", consiga demover os divergentes e manter a unidade ministerial.
Nos EUA o gabinete funciona muito bem por ser natural o presidencialismo e tem-se então uma administração altamente eficiente, não obstante em nossos dias já extensamente burocratizada.
Esse defeito do presidencialismo está se mostrando perigosamente secessionista, por ter a ministra Dilma Rousseff se erigido em fiscal de seus pares ministeriais, como acaba de fazer ao presidente Lula sobre o ministro Palocci.
Não é das funções da ministra da Casa Civil fazer críticas ou observações ásperas sobre seus companheiros, sobretudo porque não consta a nenhum colega da mídia que ela tenha experiência nas funções ministeriais em separado e em conjunto.
O ministério do presidente Lula foi formado aos trancos e barrancos, para usar uma expressão vulgar, que resultou em um governo de esquerda populista. O presidente Lula está se dando conta desta fraqueza e procura corrigí-la desde a última reforma, incompleta. Cabe-lhe agora ponderar detidamente o que deve fazer e remendar os defeitos com providências unificadoras, a fim de que o ministério corresponda ao que dele se espera numa administração.
Mas, o que impera fazer é o presidente evitar - e mais ainda, dar ouvidos - as críticas de ministros a ministros, pois esse desvio de função não leva à nada e provoca crises que podem ser, a longo prazo, funestas para o governo.
Diário do Comércio (São Paulo) 23/11/2005