O resultado da eleição presidencial em Minas Gerais continua sendo o espelho do resultado final da eleição do Brasil. Desta vez não foi diferente. Bolsonaro teve 48,31% em Minas e 46% no país. Haddad teve 27,65% em Minas e 29% no país.
O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro identificou essa coincidência depois de muitos anos de pesquisa, assim como José Perigault, um dos fundadores do Ibope, descobriu certa vez que o Méier era a representação do Rio de Janeiro.
Hoje creio que já não seja, devido ao deslocamento geográfico da população do Rio por questões de segurança e alteração de padrão de vida, entre outras.
Minas continua espelhando o Brasil porque contém em seu território representação das diversas regiões, que já havia sido detectada por um mineiro ilustre, Afonso Arinos de Mello Franco, que explicou em linguagem poética o que os números frios das urnas definem:
"As suas terras tocam os climas do norte. Participa dos climas úmidos e florescentes da orla litorânea. A oeste, da civilização do couro. Ao sul, confina com a riqueza paulista. Daí a sua posição histórica, que é um imperativo geográfico, econômico, étnico".
Isso porque Minas tem sua parte Nordeste na região do Vale do Jequitinhonha, e por isso faz parte da Sudene; ao mesmo tempo, é a segunda economia do país (disputando com o Rio), tem uma região fortemente industrializada, grande influência paulista na divisa com São Paulo; Juiz de Fora é muito ligada ao Rio de Janeiro; e o Estado tem no agronegócio uma parte influente de sua economia.
Em alguns casos, o resultado local foi praticamente igual ao nacional. E quando isso não acontece, é certo que a tendência fica definida nas urnas mineiras: em 2006 Lula teve 50,80% (48,6% no país), contra 40,6% (41,6% no país) de Alckmin. Em 1989, Collor teve 36,1% em Minas (30,5% no país) contra 23,1% (17,2%) de Lula.
Em 2014, o mineiro Aécio Neves, achando que a eleição estava ganha no Estado que governara nos últimos anos, não deu prioridade à campanha por lá e acabou perdendo para Dilma, uma mineira extraviada cuja mineiridade era colocada em dúvida pelos mineiros, tanto que na eleição de agora ficou em quinto lugar na disputa pelo Senado, enterrando a lenda de que o impeachment foi um golpe.
Dilma teve no país 41,59% no primeiro turno e 43,48% em Minas, enquanto Aécio teve 39,75% em Minas e 33,45% no país. As primeiras pesquisas divulgadas no segundo turno mostram um crescimento de Bolsonaro, na mesma direção do candidato que o apóia ao governo de Minas, Romeu Zema, do Novo. Segundo o Instituto Paraná, Bolsonaro está com 69,6% dos votos em Minas, no mesmo patamar de Zema, que estaria com 73% dos votos. Amanhã o Ibope divulga sua primeira pesquisa de intenção de votos no segundo turno. A pesquisa do DataFolha, divulgada na quarta-feira, deu 58% para Bolsonaro e 42% para Haddad.
Outro intelectual stalinista
O editor José Mario Pereira, da Top Books, lendo a coluna de ontem, onde relembrei o estranho elogio ao intelectual Stalin feito por Fernando Haddad quando era ministro da Educação, lembrou-se de Molotov, outro intelectual soviético stalinista.
Molotov foi ministro das Relações Exteriores da União Soviética, responsável pelo acordo de não agressão com a Alemanha nazista conhecido por Tratado Molotov-Ribbentrop, e dá nome ao coquetel molotov, bomba caseira assim chamada até hoje, utilizada por guerrilheiros.
A frase famosa do então ministro da Educação Fernando Haddad, confrontado sobre a adoção pelo MEC de um livro que considerava os erros de português aceitáveis, por se tratar da linguagem espontânea do brasileiro, e insinuando que os que reclamavam eram nazistas, disse que havia uma diferença entre Hitler e Stalin.
“Ambos fuzilavam os seus inimigos, mas Stalin lia os livros antes de fuzilá-los”.
José Mario concorda que Stalin era um bom leitor, estudou em seminário e lia Homero em grego. Mas ressalta que quem lia mesmo todos os livros de poetas e escritores que foram mandados para a Sibéria, ou foram mortos, era o Molotov. Talvez por dever de ofício.
“Encontraram na casa dele muitas obras de autores perseguidos pelo regime, lidos e anotados. Em seguida, fazia um relatório e a partir daí estava selada a sorte dos escritores e poetas da época”. As informações estão no livro “A lanterna mágica de Molotov”, de Rachel Polonsky.
Correção
Errei na coluna de ontem ao afirmar que o dono do bar em que ocorreu o assassinato do mestre de capoeira Moa do Katendê confirmou a versão do assassino, de que a discussão que resultou no crime não foi de cunho político. Peço desculpas aos leitores.