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Meus vampiros favoritos

 

Esteve por aí um filme sobre Drácula, "A Última Viagem do Deméter", prometendo o vampiro mais sanguinário do cinema. Saiu de cartaz com a mesma velocidade com que entrou e, pelo que ouvi, é fácil entender o fiasco. O monstro é uma fera em forma de morcego, com uma boca de 32 caninos, copiosa salivação e nenhuma consideração para com os humanos que viajam com ele naquele navio. Quem tem medo de um vampiro tão óbvio?

Drácula, para apavorar, tem de ser um irresistível sedutor de suas vítimas, como o personagem criado pelo irlandês Bram Stoker em 1897: um nobre da Transilvânia, alto, imponente, elegante e com uma família de mil anos, quem sabe um Habsburgo. Não fosse pela infelicidade de sua alergia à cruz e de os espelhos não refletirem a sua imagem, abafaria nos salões do Império Austro-Húngaro.

Eis porque nunca houve um Drácula como Christopher Lee (1922-2015). Lee, 1,96m, culto e ele próprio de origem aristocrata, correspondia exatamente à descrição de Bram Stoker. Daí ter interpretado Drácula em seis filmes, sendo o primeiro, "O Vampiro da Noite" (1958), também o primeiro Drácula a cores —detalhe nada desprezível, já que o sangue fotografa melhor em vermelho. Isso não desmerece o primeiríssimo "Drácula", de 1931, com Bela Lugosi, que era húngaro de verdade e, quem sabe, descendente de Vlad Dracul (1431-76). E aqui chegamos ao Drácula que inspirou todos os Dráculas.

Vlad foi um príncipe da Valáquia, em eterna guerra contra os otomanos. Era gentil com seus prisioneiros até a hora de empalá-los vivos, em estacas pontiagudas que os atravessavam pelo ânus e lhes saíam pela boca. Matou 20.000 pessoas assim, plantando florestas de empalados em seu país.

Daí ter passado à história como Vlad, o Empalador. Mas, no fundo, talvez não gostasse do que fazia. Tanto que, segundo recente notícia nos jornais, chorava lágrimas de sangue.

 

Folha de São Paulo, 10/09/2023