O organismo político da nação está sofrendo de uma doença maligna. Os sinais estão na cara de todos nós, mas, acima de tudo, na cara dos principais envolvidos nos escândalos que estão vindo à tona numa progressão assombrosa. A biópsia, a cargo da CPI dos Correios ou da CPI do "mensalão", mesmo que termine em suculenta pizza, não disfarçará a doença que atualmente corrói a estrutura do poder.
Como acontece com o câncer, se for diagnosticado a tempo e extirpado radicalmente, em 99% dos casos a saúde voltará plenamente ao organismo. Terror da humanidade, cujo nome os jornais não se atreviam a publicar, preferindo usar a expressão "insidiosa moléstia", o câncer está sendo considerado uma doença crônica, não mortal, que pode dar a seu portador uma sobrevida normal e longa. Mas tudo se esboroa no organismo quando ocorre a metástase.
Não é mais um órgão comprometido, que pode ser jogado num balde de sala de cirurgia, mas algumas células fora do código que a natureza criou para garantir a normalidade biológica -que garante a saúde e a própria vida.
Deixando de lado essa oncologia improvisada de um leigo, entremos no assunto propriamente dito. Células malignas estão rodando por aí, em vários níveis e com malefícios já detectados. A questão agora é saber se já começou ou não a metástase final. Os próximos dias trarão o laudo definitivo.
PS - Na crônica sobre a morte do escritor Antônio Carlos Vilaça, ocorrida há duas semanas, cometi um erro de informação. Nos últimos anos de vida, ele contou com o apoio do Pen Clube e, mais tarde, quando sua saúde se deteriorou de forma irreversível, um grupo de amigos, entre os quais estavam Alberto Venâncio Filho e Alberto da Costa e Silva, cotizou-se para ampará-lo física e moralmente.
Folha de São Paulo (São Paulo) 11/06/2005