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Medalha de ouro para o Rio

 

Esta crônica está sendo escrita dois dias antes da Olimpíada terminar. Sou pessimista de carteirinha e considero os otimistas mal informados. Podem acontecer ainda coisas terríveis, balas perdidas e lutas de traficantes. Até agora tudo correu às maravilhas, embora no aspecto técnico, mais uma vez, provamos que o Brasil não tem vocação olímpica.

Nos Estados Unidos, as modalidades esportivas praticamente fazem parte do currículo da maioria das universidades. Mas não é disso que quero falar. Da minha varanda, aqui na Lagoa, vi as provas do remo, deslizando pelas águas os barcos da cor dos violinos. Pela TV vi outras modalidades tendo como cenário o Rio de Janeiro.

Conheço a maioria das cidades tidas como bonitas. Dou razão a Stefan Zweig, que acusou o Todo-Poderoso de ter perdido a cabeça quando fez o Rio em sua estrutura panorâmica. Tinha razão. Em "close" é uma das cidades mais feias do mundo, não tem os magníficos detalhes e obras de arte de cidades como Praga, Viena, São Petersburgo, Roma, Paris, que são magníficas em seus detalhes e perspectivas arquitetônicas. Mas, panoramicamente, não chegam a ameaçar a medalha de ouro que o Rio conquistou logo depois do dilúvio.

No aspecto material, até agora, como disse acima, não houve balas perdidas nem guerras entre traficantes. Um jornal estrangeiro limitou-se a falar mal dos biscoitos de polvilho que desde Estácio de Sá são vendidos nas praias cariocas.

Ouvi na Itália uma piada que tem uma evidente verdade. Quando Deus criou o Rio de Janeiro, os anjos, arcanjos, querubins e serafins se revoltaram e foram reclamar da parcialidade do Criador em fazer uma cidade mais bonita do que o céu onde eles vivem. Deus ouviu as queixas, mas tranquilizou a corte celestial dizendo: "Esperem, esperem. Mais tarde vocês verão o tipo de gente que colocarei ali."

Folha de São Paulo (RJ), 21/08/2016