Quanta diferença do Lula que, em recente entrevista, declarou querer fazer “um governo para a classe média” para o dia em que a filósofa Marilena Chaui gritou que detestava “a classe média”, provocando risos do próprio Lula. Já se passaram muitos anos, e a ficha caiu, pelo menos para o presidente. Às voltas com o aftershock da manifestação bolsonarista na Paulista, ele tenta se aproximar dos evangélicos abrindo as burras do governo com isenções tributárias até para compra de carros para as cúpulas religiosas, num Estado supostamente laico.
Melhor faria se olhasse para dentro das comunidades evangélicas e demais segmentos comunitários das periferias para entender seus sentimentos, detectados logo após a eleição municipal que o PT perdeu em São Paulo, em 2016, por uma pesquisa do Instituto Perseu Abramo, do próprio partido. O que o então diretor do Datafolha Mauro Paulino, hoje comentarista da GloboNews, chamou de “aburguesamento de valores” da classe média brasileira já estava identificado ali.
Já abordei o tema aqui algumas vezes, mas não custa repetir. O instituto avisava que o “imaginário social dos moradores da periferia de São Paulo”, já àquela época, revelava intensa presença dos valores liberais do “faça você mesmo”, do individualismo, da competitividade e da eficiência. Uma população que não crê em partidos; almeja crescer individualmente; busca transformações, mas é pouco afeita a rupturas; anseia por novas ideias, mas é também pragmática.