Dizia Disraeli, primeiro-ministro da Rainha Vitória e autor da obra grandiosa que foi o Império Britânico, que há três tipos de mentira: a mentira simples, a mentira completa e a estatística. Não poderia ter acertado melhor no ponto que desejava atingir, para confirmar o que entendia por estatística.
Quem a compulsa, quem dela depende, acaba dando razão ao solerte ministro da rainha britânica. Chegam alguns estatísticos a afirmar, contra eles mesmos, que as estatísticas dificilmente são fiáveis.
Está em jogo, agora, o IBGE. Durante o período dos militares, suas estatísticas foram maquiadas numerosas vezes para apresentar um quadro de prosperidade superior a países organizados e melhor administrados. O leitor de jornais, o telespectador, vêem as estatísticas, mas, como dizia, cinicamente, um político de grande prestígio, ninguém vai conferí-las. É afirmar com plena convicção.
Não deve ser assim com o IBGE. A fundação que mantém esse organismo é tida como honesta nos seus trabalhos. Ainda mais, é o IBGE o único organismo no qual podemos, com certa desconfiança, nele confiar, pois é o que temos e com o qual contamos para comentários, análises e projeções. O IBGE é, portanto, indispensável aos administradores do País, embora falhem, não raro, as estatísticas fornecidas aos analistas da realidade econômica, social e política.
Não se pode admitir, portanto, a decisão tipicamente totalitária do governo de Lula, o ex-torneiro mecânico, de que todos os trabalhos do IBGE devam ser previamente submetidos ao ministro do setor antes de sua divulgação. O ministro quer saber, previamente, como estão os números do País. E deu essa ordem usando de suas atribuições, visando, em primeiro lugar, o interesse do PT, do governo Lula, e, enfim, o da máquina montada pelo PT para ficar no poder mais tempo de que se supõe.
É um golpe na democracia, pois ao menos para fins de informação o IBGE deve ser independente.
Diário do Comércio (São Paulo) 03/02/2005