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Mandatos elásticos

 

José Serra, um dos presidenciáveis do PSDB, manifestou-se contra a reeleição e a favor do mandato de cinco anos. Espantoso como o interesse pessoal muda a cabeça dos políticos. Na Constituição de 88, foram fixados quatro anos para os períodos presidenciais.


Pouco, sem dúvida. Mas o partido tucano estava afobado, queria chegar logo ao poder, liderou na Constituinte o mandato de quatro anos para ficar livre de Sarney, que fora diplomado pela Justiça Eleitoral para um período de seis. Nas mesmas bases dos constituintes que reduziram o seu mandato constitucional, Sarney conseguiu mais um ano.


Collor não teve tempo para cavilar um mandato maior. FHC, que na constituinte foi o mais espalhafatoso defensor dos quatro anos, uma vez eleito para o período estabelecido pela Constituição, na qual ele mesmo votou, tratou de descolar a reeleição comprando votos com um descaramento diante do qual os atuais escândalos parecem obra de amadores.


Com a lambança do PT no poder, as chances do PSDB voltam a ser fortes, mas o fantasma da reeleição de Lula tira o sono dos presidenciáveis do partido. É hora então de acabar com a reeleição e restaurar o mandato de cinco anos, para usufruto de Serra ou do tucano da vez.


O PT tentou se marcar como o partido da ética: deu no que está dando. O PSDB sempre se vendeu como o partido do direito, da lei, da coerência política. Mas quando se trata de obter vantagens pessoais ou partidárias, adota um direito elástico: para os outros, um mandato menor; para eles, reeleição ou um ano a mais.


Admiro José Serra. Foi um bom ministro da Saúde, tem espírito público, não sei se está sendo bom ou mau prefeito em São Paulo. Mandato presidencial de cinco anos, em si, faz o presidencialismo voltar ao leito natural e bastante. JK teve só cinco para realizar um trabalho de 50 anos. Mas esticar ou diminuir mandatos em interesse próprio ou partidário só merece um nome: sacanagem.




Folha de São Paulo (São Paulo) 15/12/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 15/12/2005