A programação do Governo fluminense prevê a construção até o final do ano de oito escolas em prisões do Rio de Janeiro. Uma delas foi inaugurada no Complexo da Frei Caneca, numa área que não será implodida. Ali passou a funcionar a Escola Estadual Supletiva Francisco Alcântara Gomes Filho. A particularidade da obra é que ela foi totalmente feita por internos que têm experiência em carpintaria, marcenaria, eletricistas e demais profissionais necessários. Os tijolos ecológicos, que já se transformam num símbolo dessas realizações que juntam a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária e a Secretaria Estadual de Educação, foram feitos numa outra penitenciária. A SEE colaborou com a sua equipe pedagógica e a compra de materiais indispensáveis, como móveis, luminárias, livros, etc. A parceria deu mais do que certo.
A segunda escola foi construída e inaugurada no presídio feminino Nelson Hungria, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Orçada em 5,5 milhões de reais, a unidade foi erguida em tempo relativamente curto, numa área de quase cinco mil metros quadrados.
Trata-se da Escola Estadual Supletiva Tenente PM Hailton dos Santos, homenagem ao oficial morto recentemente - e que era diretor do presídio Ari Franco. Houve muita emoção nos discursos feitos, pois estavam presentes à solenidade a esposa, os filhos e a mãe do mencionado militar. O inconformismo pela morte prematura foi substituído pela esperança de que tais fatos não mais ocorram e se possa ter maior segurança em todos os nossos bairros.
Outra particularidade que tornou a manhã inesquecível foi o registro de que a obra foi inteiramente realizada por 50 internas, com o maior entusiasmo, pois também esse tipo de trabalho lhes concederá uma remissão prevista em lei. Hoje, cada 12 horas de trabalho comprovadamente realizado representa um dia de redução da pena.
Cursos. Além disso, abriu-se espaço para 300 internas realizarem cursos oficiais que vão desde a alfabetização até o ensino de grau médio. Assim, a passagem pelo presídio deixa de ter a lamentável conotação de "preparatório para a universidade do crime", transformando-se numa oportunidade socialmente válida para conclusão de cursos que levarão as apenadas, depois de livres, a poder exercer uma profissão que lhes dê garantia de subsistência digna.
Louve-se, pois,o dr. Astério Pereira dos Santos, pela feliz iniciativa, que contou com o pleno apoio da Secretaria de Estado de Educação. Veja-se o seu alcance: serão abertas quase 3 mil vagas no sistema penitenciário para que haja estudos formais, o que se conjuga com um aspecto elogiável de as obras serem realizadas pelos próprios beneficiários desses estudos cercados de tanta esperança.
Há surpresas muito agradáveis, na vida pública. Quando eles transparecem, não podemos deixar de proclamar, até mesmo em busca do justo reconhecimento.
Jornal do Commercio (RJ) 3/11/2006