Nascido no morro do Livramento, no Rio de Janeiro, Machado de Assis (1839-1908) foi o que chamamos de autodidata. Não chegou a completar sequer o ensino primário. Hoje, é considerado o maior escritor brasileiro de todos os tempos. Foi presidente da Academia Brasileira de Letras por dez anos.
Movido pela natural curiosidade de educador, procurei pesquisar mais a fundo as ligações do "Bruxo do Cosme Velho" com as questões ligadas ao ensino. E assim foi possível alcançar resultados surpreendentes, prova da genialidade do autor de "Memórias Póstumas de Brás Cubas".
Como pude registrar no livro "O Olhar Pedagógico em Machado de Assis" (ed. Expressão e Cultura), em 1999, Machado foi autor de frases emblemáticas, como a que se refere à gramática: "É um alto serviço a uma língua e a um país".
Seus textos tratavam do relacionamento entre professores e alunos. Eram relações escolares difíceis e perigosas, deixando as conclusões para o próprio leitor.
O curioso é que os seus personagens infantis não apreciavam muito a escola. Em "Umas Férias", José Martins afirma que "gostava de folgar, não gostava de aprender". Mais adiante, diz que "era ocasião de deitar à fogueira o livro da escola", para concluir que "aprender é muito aborrecido". Sempre que podia, fustigava a escola e a pedagogia do seu tempo. Depois, chama a escola de "enfadonha". E, em "Brás Cubas", cita a "benta palmatória", tão criticada pelos autores modernos.
Numa seleção de frases, num dado momento, afirmou que "tudo morre, até a esperança". Já no clássico "Quincas Borba", deixou a ideia de que "em política, a primeira coisa que se perde é a liberdade". Está no mesmo livro. Em seguida, outro pensamento: "Toda a sabedoria humana não vale um par de botas curtas".
Há fagulhas pedagógicas em todos os seus trabalhos. Tem sempre uma lição, mesmo que não fosse essa a sua intenção. Elas demonstravam grande entendimento do que seja a nossa alma. Citava a existência de castigos, a valorização das línguas estrangeiras e o pouco prestígio à educação feminina. Tudo com estilo irônico e cuidadosa estrutura vocabular.
Junto com suas afirmações, há espanto e encantamento com o mundo. Como fazem os bons mestres, com o objetivo de não apenas ensinar, mas para servir de inspiração, Machado se referia ao prazer de ler, numa obra verdadeiramente universal e, na verdade, atemporal. Essa é a magia do universo machadiano, ainda hoje muito apreciado.
Machado nasceu em 1839, ano em que também nasceram Casimiro de Abreu e Tobias Barreto. Foi funcionário público (Imprensa Nacional), contista, poeta, cronista e autor teatral. Autor de mais de 200 contos, ao lado de 600 crônicas, traçou de forma competente os conflitos da nossa alma. Ocupou-se da miséria do ser, com a visão moral presente em sua obra: "Não inventei nada; é a realidade pura". Machado é uma glória da cultura brasileira.