Na presunção das solidariedades permanentes das políticas de boa vizinhança, Trump vem de urgir a América Latina a romper relações com a Venezuela. E só deparamos a perplexidade da OEA, diante da ameaça de operação militar americana brandida contra Caracas.
Emerge, também, um precedente inédito, de intervenção para a garantia do sistema democrático, em confronto com a soberania do país denunciado. Na investida contra a Venezuela de Nicolás Maduro, depara-se a ambiguidade de Trump, a só se guiar pelo isolacionismo nos seus ditames internacionais.
Ficam fora de qualquer paradigma a toma da palavra subsequente e o jogo de ameaças a se desfazer e refazer a cada dia. E só se reclama, e cada vez mais, a iniciativa da OEA em imunizar a América Latina dos destemperos do America First, proclamado em Washington.
Cresce o imponderável da fala presidencial, no que será a declaração no dia seguinte. A ameaça a Caracas, por outro lado, leva à declaração de Maduro de que tem o exército mais moderno do continente, inclusive municiado por Putin. E o presidente venezuelano vai adiante e considera o russo o maior estadista do mundo.
O que é claro é a nova conjuntura global em que se coloca a Venezuela, frente às clássicas solidariedades continentais. O vice-presidente Mike Pence, na sua visita à América Latina, deixa de vir ao Brasil, após os encontros em Santiago e Buenos Aires. Desaparecem as certezas de meio século atrás, ainda na etapa rooseveltiana, do bem inefável da "boa vizinhança" e todos os seus corolários.
Cresce a fala segregacionista de Washington, a isolar os latinos, ao lado dos africanos, nas periferias da coletividade estadunidense. E só se avoluma o risco despontado em Nashville, de que a obsessão pelo purismo americano possa levar, num retrocesso histórico alarmante, ao suporte do fundamentalismo branco e ao racismo subsequente.