Quem visita o campus da Columbia University, em Nova York, nesta época de outono frio e dourado tem a atenção despertada para a sua grandiosidade e o fervor da cultura clássica. Isso se depreende pelas referências, no prédio principal, a figuras míticas como Homero, Virgílio, Sófocles, Platão, Aristóteles e outros vultos.
Tudo sob a suprema inspiração da frase latina "alma mater", inscrita na bela escultura de 1903 que adorna a entrada central. Foi nesse ambiente quase sagrado que especialistas brasileiros e americanos debateram o tema "Brazil and the future", no International Affairs Building Auditorium, por iniciativa da Casa do Brasil e da Columbia University, com a presença de figuras como o médico Ivo Pitanguy, muito aplaudido.
O tema prioritário foi a educação. Na ocasião, enfatizamos a necessidade de melhorar urgentemente as condições de formação, trabalho e remuneração do nosso quadro do magistério. Assim como, por provocação da plateia, mostramos que ainda estamos longe de oferecer aos nossos estudantes um ensino técnico-profissional, de nível intermediário, plenamente satisfatório.
Como estará a nossa educação nos próximos sete anos? Cientificamente, sabemos que não são fáceis os exercícios de futurologia, sobretudo quando estão em causa nações em desenvolvimento. Teremos, num curto espaço de tempo, dois eventos exponenciais: a Copa do Mundo de futebol, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016. Estaremos preparados, inclusive do ponto de vista de recursos humanos, para enfrentar esses desafios?
A resposta nos leva a uma posição que poderá ser razoavelmente otimista. Tomando por base a realidade deste ano, infere-se que há boas perspectivas, embora não se deva desprezar o tamanho dos óbices a serem superados.
Temos, pontualmente, que melhorar os índices de atendimento à educação infantil (há mais de 20 milhões de brasileiros entre 0 e seis anos, dos quais somente 6,3 milhões são atendidos de alguma forma); aperfeiçoar a qualidade do ensino fundamental, depois de alcançada a sua universalização (há 53 milhões de matrículas no ensino público); evitar os fenômenos de evasão e repetência no ensino médio, onde temos 7,2 milhões de estudantes, e valorizar a vertente profissionalizante, uma obrigação dos poderes públicos, com a devida colaboração da iniciativa privada; ampliar as oportunidades, sobretudo em novas profissões (educação ambiental, tecnologia da informação, energias limpas), no ensino superior, dobrando o número dos atuais 5,8 milhões de alunos (temos 58 universidades federais e 86 universidades particulares); manter a excelência da pós-graduação, reconhecida internacionalmente como de boa qualidade.
Isso terá influência decisiva na ampliação do número de cientistas brasileiros. Para que tudo isso ocorra, o país deve se voltar, com firmeza, para a formação e o aperfeiçoamento de professores e especialistas, inclusive com a adoção criteriosa da modalidade de educação à distância, na qual hoje temos mais de 1 milhão de estudantes.
Esse número, para uma população estimada de 202 milhões de habitantes, em 2016, deverá ser quadruplicado, pois o sistema comporta um crescimento como esse. Há necessidade de mais recursos para a educação, que hoje investe cerca de 4,5% do Produto Interno Bruto.
A educação, com cerca de 22 bilhões de dólares, tem o terceiro orçamento da República, atrás somente das pastas da Saúde e da Defesa. Deveremos chegar a 6% do PIB, para que todos os planos e projetos sejam viabilizados no prazo determinado. Assim será possível vencer um dos maiores obstáculos da educação brasileira, que é a remuneração do quadro do magistério.
Temos cerca de 3 milhões de professores empregados (quase 500 mil no ensino superior), com a média salarial de 500 dólares, o que é muito pouco. Devemos valorizar a atuação dos professores e especialistas, não só aperfeiçoando os seus cursos de formação (providência urgente) como também remunerando adequadamente esse serviço fundamental para os planos de crescimento do país.
Será sempre difícil estimular os jovens da classe média a escolher o magistério com salários que são reconhecidamente dos mais baixos do mundo. A estimativa é a de que, nos próximos cinco ou seis anos, possamos triplicar os números atuais. E, ainda assim, estaremos abaixo de nações como as que foram batizadas de tigres asiáticos.
Folha de São Paulo, 9/11/2009