O presidente Michel Temer luta pela vida de seu governo, que depende necessariamente da aprovação da reforma da Previdência, mas terá uma boa vitória se conseguir aprovar hoje a reforma trabalhista, que ontem passou pela fase de comissões sem grandes danos. É natural que esteja endurecendo com aliados para garantir o apoio, mas esse tipo de aliança costuma ser fluída e só mesmo depois da votação será possível saber o que funcionou.
O PSB, por exemplo, fechou questão contra ambas as reformas, mas dividiu-se na comissão sobre a trabalhista, o que leva a crer que não conseguirá votar unido contra a reforma da Previdência. Uma pequena vitória de Temer dentro de um quadro que se apresenta bem mais difícil do que o Planalto previa.
Aprovadas as reformas, mesmo com todas as mudanças que tiveram que ser feitas, o governo estará garantido até 2018, com a retomada de um crescimento incipiente que servirá para amenizar o clima tenso que vivemos.
Derrotado no plenário na reforma da Previdência, o governo Temer enfrentará cada vez mais os movimentos para antecipação das eleições, e terá sua situação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) agravada pela crise política que sobrevirá.
Por isso também o governo corre para aprovar a reforma trabalhista hoje no plenário, antes da greve geral marcada para a sexta-feira. Como é um projeto de lei, exige menos votos para ser aprovado do que a emenda constitucional da reforma da Previdência, e o governo quer dar uma demonstração de força no plenário para restabelecer a confiança em seu controle da maioria congressual.
A greve geral marcada para uma sexta-feira que antecede um feriado na segunda já perdeu seu poder político com essa esperteza barata de criar um feriadão como estímulo a seu sucesso. Demonstram fraqueza os sindicatos que a convocaram, e terão de qualquer maneira uma vitória de Pirro se vingar, pois escancararão sua fragilidade mesmo diante de reformas tão fundamentais.
Se o país parar, será para curtir quatro dias de folga, não para criticar as reformas ou pedir um “Fora Temer”. Esse trabalho ficará com os militantes sindicalistas, que perdem a cada dia a força de mobilização, e perderão ainda mais se ficarem sem a obrigatoriedade da contribuição sindical.
Fazer greve numa quarta-feira qualquer e receber o pagamento espontâneo de seus filiados é tarefa quase impossível para os sindicatos atuais, que defendem mais as corporações do que a massa trabalhadora. Aproveitar a mobilização da pretensa greve geral e arregimentar militantes para manifestações em Curitiba dois dias depois do feriadão não parece ser uma boa estratégia, e talvez esse arroubo dos petistas seja contraproducente, pois pode revelar-lhes fraqueza, em vez da presumida força militante.
Um termômetro bom será a pesquisa que a Datafolha divulgará no domingo, a primeira depois da enxurrada de depoimentos dos executivos da Odebrecht divulgados nos últimos dez dias. Se Lula mantiver a força eleitoral que outras pesquisas têm detectado recentemente, terá passado por um teste importante, embora nada garanta que conseguirá manter-se incólume em uma eventual campanha eleitoral.
Se tiver sido atingido pela série de acusações que sofreu, não significará que esteja inviabilizado eleitoralmente, mas será um sinal de advertência que ele saberá ouvir. Ciro Gomes já se lança como o grande líder da esquerda, e dentro do PT já surgem novos nomes, como o do ex-prefeito Fernando Haddad ou do ex-chanceler Celso Amorim.
Há um movimento interno do PT pedindo autocrítica para que o partido tente se recuperar, e nomes históricos como Leonardo Boff costeando o alambrado, num início de movimentação para encontrar substitutos a Lula na corrida presidencial.