Se, por catástrofe, perdermos a Copa, nem por isso uma purga nacional, ou mesmo um ato de masoquismo, fará o país penalizar Lula, como espera ainda a oposição. Um voto em Alckimin não é corretivo histórico simbólico para uma desgraça na Alemanha. Não se confunda anticlímax, com autopunição nacional, ou execução sacrificial pela decepção com o hexa, cada vez mais impossível.
Resplandecem as estrelas do verde pendão, como se foram as bolhas do pé de Ronaldo. A vitória de Lula no primeiro turno é fatalidade que escapa de um novo gol de Gigghia, ou da ressaca cívica abissal pela improbalíssima derrota. Mais ainda, o bis do governo não depende de programas novos, nem de respostas de como responder ao seu segundo tempo.
O que deparamos, sim, é uma socialização inédita do fato político brasileiro, que associou o país dos desmunidos à figura do presidente, soldada à mais democrática das medianias brasileiras.
Inútil, a esta altura, derrubá-lo pelos critérios moralistas da classe média, continuar na litania do mensalão, buscar o último arquivo ou a conta na Atlântida. Nem execrar o PT para atingir o presidente, nem e, sobretudo, amarrar a reeleição e o novo voto ao saber-se com quem vai governar ou como administrará o vazio dos quadros implodidos pela denúncia de corrupção. O ativo novo é o desta confiança latente no presidente, pelo símbolo que o precede; que é desta gesta ou proeza única e democraticíssima da chegada ao poder do ex-torneiro mecânico.
Lula é o mandatário deste esperança de que só os seus eleitores, entretanto, sabem os limites, a paciência, a repetição, ou até o capricho. Aí está Lula, abandonado pelos puristas da legenda, ambíguo nas propostas do que venha a dar certo como modelo: da pseudo parecença com o que aí está, como sempre esteve. A diferença entretanto entre as mesmices, só a sabe o aguilhão da crença popular – e seu dito irracional – que é ativo político inédito – e não a ingenuidade dos ignorantes. Na coluna do haver de Lula, é esta paciência ancestral que explica a tolerância com a falta de resultados imediatos e, sobretudo, o redobrar multiplicado de crédito que o começo de resultados apresente.
Não adianta pedir-se ao doutor Alckmin que nos diga a quem vem a social democracia na esterilidade do tucanato e do ovo permanentemente choco da mudança. Não se lhe peça senão o que já disse, ou não disse. Mas o que disse? O Brasil de Lula sabe, de bom senso grosso, para onde não mais retorna. A condição de mudança nasce hoje destes protagonistas emergentes, entre este povo que continua a votar no petista que sabe o que não tem que fazer.
O status que encontrou, a bem geral da nação, também, o símbolo do que não pode querer no moço bom, obediente ao óbvio, asséptico na sua esterilidade: no agora Geraldo para ninguém botar defeito ou surpresa. Com a Copa, o 2 de outubro vira um plebiscito antecipado. Sem a Copa, torna a esperança à dureza das militâncias de que não se demite, maior que as decepções, o direito do “Lula lá”.
Jornal do Brasil (Rio de Janeiro) 28/06/2006