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Louvor à marmelada

 

A palavra e o sentido não mais são usados, mas era frequente entre torcedores e alguns jornalistas. Significava um tipo de venalidade, então exclusiva aos jogadores e técnicos. Hoje, pode ser aplicada aos cartolas de vários feitios e nacionalidades. A palavra (marmelada) parece adequada.

Alguns casos de ostensiva marmelada ficaram na história do futebol. Lembro a Copa do Mundo de 1978, em Buenos Aires. Para ir à final, a Argentina precisava de uma vitória escrachante sobre o Peru, coisa de três a quatro gols de vantagem. O presidente dos nossos "hermanos" era o general e ditador Videla, que, depois de ser preso por corrupção e violência, morreu em cima de um vaso sanitário na prisão onde cumpria pena de prisão perpétua.

A Argentina deu uma goleada no Peru, sagrando-se campeã daquela Copa. Até os ossos de Carlos Gardel ficaram convencidos da marmelada oficial. Videla comprou todo o time do Peru para facilitar a goleada.

Outro caso famoso foi o de Manga, que levou um tiro do então técnico João Saldanha, que acusou o goleiro do próprio time de marmelada.

Dias antes de morrer, perguntaram ao grande craque Zizinho se ele tivera alguma mágoa de alguém ligado ao futebol. Zizinho não pensou duas vezes. Declarou que odiava o romancista José Lins do Rego, presidente da delegação brasileira, que o acusara de venal e de marmelada.

Há centenas de casos em que, por isso ou aquilo, um jogador ou um técnico são acusados de marmelada, paga principalmente pelos cartolas do time adversário. Passa o tempo, e as marmeladas ganharam status, num "upgrade" que passou dos jogadores para os paredros que mandam na escalação dos times, nas tabelas e locais das partidas.

O recente escândalo na Fifa confirma a marmelada tamanho família que botará na cadeia alguns pesos pesados do futebol mundial. 

Folha de S. Paulo (RJ), 07/06/2015