Cada vez que cinco ou seis líderes petistas se reúnem, sob qualquer pretexto, o assunto mais recorrente é a necessidade de controlar a mídia. Se houve partido nacional que, durante anos, se beneficiou da imprensa foi justamente o PT.
Independentemente de seus méritos históricos e circunstanciais, ele surgiu como novidade e com uma garra que o ampliou até a conquista do poder que desfruta há mais de oito anos.
Em linhas gerais, a mídia acompanhou e colaborou na criação deste superpartido -que, entre mortos e feridos, trouxe algumas conquistas que ninguém pode negar. Apesar disso, o petista de carteirinha nunca está satisfeito, considera-se vítima da imprensa burguesa, vendida a interesses escusos. Daí a necessidade de criar um controle oficial não apenas sobre o noticiário, mas sobre a opinião dos jornais.
É o sonho de consumo de todos os partidos que cultivam sequelas totalitárias. Dominar a sociedade com o pensamento único. Embora os governos mantenham em funcionamento os diários oficiais que dão regra e compasso à vida pública, querem sempre mais, não só em defesa própria, mas em ataques aos adversários.
Na última reunião do partido, a tônica dos debates foi praticamente a necessidade de controlar a mídia -que, no cumprimento de sua missão social, divulga os sucessivos casos de corrupção e a decorrente impunidade na maioria deles.
Só para lembrar, numa das seis prisões que sofri nos anos de chumbo, o coronel que me interrogou perguntou por que eu escrevia sempre contra a Guerra do Vietnã.
Sugeriu que eu mudasse de assunto e escrevesse sobre a batalha de Lomas Valentinas, "um tema que enaltece a nação e é motivo para o orgulho de todos os que amam o Brasil". Agradeci o conselho, mas até hoje não consegui me entusiasmar pelo tema.
Folha de São Paulo, 8/9/2011