A decisão da advogada Beatriz Catta Preta de fechar seu escritório de advocacia e desistir da profissão diante das ameaças que diz ter recebido depois que o empresário Julio Camargo acusou o presidente da Câmara Eduardo Cunha de ter recebido US$ 5 milhões de propina no escândalo da Petrobras é o toque dramático de uma situação escandalosa: o atual presidente de um dos poderes da República, o segundo na linha de sucessão presidencial, é acusado de coagir e ameaçar pessoas e empresas, utilizando-se de sua influência na Câmara.
Antes, já havia sido acusado, em depoimento do doleiro Alberto Youssef, de usar uma deputada sua aliada para apresentar requerimentos para constranger empresas que se recusavam a pagar propinas para o PMDB. Agora, o mesmo Yousseff disse em depoimento que estava sendo ameaçado por um deputado “pau mandado” de Eduardo Cunha, membro da CPI da Petrobras.
O doleiro disse que até mesmo sua família estava sendo ameaçada, e o deputado citado como “pau mandado”, Celso Pansera, do PMDB do Rio, realmente pediu à CPI a quebra de sigilos da mulher e das filhas de Yousseff , o que foi negado pelo Supremo Tribunal Federal.
A defesa do empresário Julio Camargo não mediu palavras: em suas alegações finais, os advogados dizem que Cunha está "agindo com a lógica da gangue". Para eles, "está em vigor a 'moral da gangue', que acredita por triunfar pela vingança, intimidação e corrupção".
Os advogados Antônio Figueiredo Basto e Adriano Bretas assumiram a defesa de Camargo em lugar de Catta Preta, e acusam Cunha de agir "astuciosamente" para desacreditar os depoimentos do delator, e usar a maledicência e a CPI da Petrobras "para desencorajar" Camargo. Essa “maledicência”, aliás, é responsável pela boataria que cercou o caso de Cata Preta nos últimos dias. Diversas versões circularam, todas desacreditando a advogada, que ora seria ligada aos promotores, outras ao próprio Cunha.
Foi a CPI, presidida por um aliado de Eduardo Cunha, que decidiu convocar Beatriz Catta Preta para saber de onde vem o dinheiro dos que a contratam, numa tentativa de ligar o dinheiro desviado da Petrobras ao pagamento de seus honorários. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Ministério Público Federal manifestaram-se contrários à sua convocação, que claramente fere as prerrogativas dos advogados.
Na entrevista que concedeu ontem ao Jornal Nacional, a advogada Beatriz Catta Preta deixou claro que depois que seu cliente Julio Camargo, que havia omitido o nome de Eduardo Cunha nos primeiros depoimentos à Justiça, decidiu voltar atrás para incriminá-lo, ela recebeu ameaças, sempre de modo indireto, mas críveis o suficiente para que desistisse de prosseguir nos 8 casos de delação premiada que coordenava como advogada.
Ela explica que Camargo não denunciou Cunha antes por medo, mas que voltou atrás para não perder os benefícios da delação premiada. Não é à toa, portanto, que o presidente da Câmara já começa a enfrentar um movimento, por enquanto incipiente, para tirá-lo do cargo caso venha mesmo a ser denunciado pelo Procurador-Geral da República Rodrigo Janot, que, por sinal, tem sido objeto direto das retaliações de Cunha e de políticos como o senador Fernando Collor.
O abuso de poder de que é acusado, e que de uma maneira ou outra sempre esteve presente na sua vida política, agora em vez ajudá-lo, atrapalha. O fato é que o deputado Eduardo Cunha, que sonhou em meio à sua trajetória recente até mesmo vir a disputar a presidência da República, hoje tem pela frente uma batalha de vida ou morte contra as acusações de que provavelmente será vítima logo nos primeiros dias de agosto, depois do recesso parlamentar.