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A língua do futuro

 

Quem se der ao trabalho de levantar todos os termos da língua portuguesa, em sua versão culta, poderá chegar a cerca de 600 mil vocábulos. Só o Vocabulário ortográfico da língua portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, tem perto de 400 mil verbetes. É uma das 10 línguas mais faladas do mundo, abrangendo povos que, somados, chegam a 240 milhões de falantes. É por essas e outras que existem movimentos de valorização do nosso idioma, como recentemente ocorreu com a defesa da latinidade, em que os próprios franceses se encontram firmemente empenhados. É uma forma, na verdade, de tentar uma reação ao predomínio inglês, graças à parafernália eletrônica de que é pródiga a inclusão digital, como se verá a seguir.

Vamos supor que o indivíduo tenha levado uma pancada na cabeça. Demorou 20 anos para se recuperar. Quando finalmente acordou, pensou que estava em outro mundo. Não entendeu nada do que diziam os jornais e as pessoas à sua volta.

Pousou os olhos curiosos numa página digital. Depois de 10 minutos de garimpo, pediu socorro ao médico que o atendia. Achava que tinha ficado louco.

Não era para menos. Leu que o IRF ANVIEW permite fazer conversões de várias imagens ao mesmo tempo. Se quiser utilizar alguns programas gratuitos no seu PC com Windows, é preciso ver a lista de aplicativos. Vai além e registra que o VLC Player é uma excelente opção para ver vídeos e filmes no formato AVI. E reconhece que toca músicas com uma fidelidade maior que a do Windows Media Player. A enfermeira ajuda, dizendo que as fotos de um bebê podem ser organizadas pelo F-Spot, gerenciador grátis para Linux. Lembrou do sobrinho que não via há muito tempo.

O nosso herói aprende ainda que o formato RMVB é mais compacto, baixa da internet mais rápido e pode ser visto no Media Player Classic. Fica animado quando sabe que o Winamp ganhou até versão para Android e desconfia que esse seja um assunto para amantes da música. Mas não tem certeza. Logo sua atenção se volta para o AVG Free, boa alternativa para proteger o PC. Quase desiste quando verifica que o BrOffice edita e salva documentos em formato Word, Excel e Power point e ainda pode exportar para PDF, que ele não sabe o que é. Nem Blackberry.

Fica um pouco mais animado quando sente algo mais humano nessa descoberta: um cientista da Universidade de Osaka, no Japão, criou um minirrobô que pode virar o smartphone do futuro e imita movimentos humanos. Pensa que, enfim, estamos salvos.

Baixa os olhos para outra seção do jornal e descobre que há um programa que facilita pesquisa visual em anexos de e-mails. Como tinha parado de estudar aos 16 anos de idade — e nada disso era falado há 20 anos — levou um baita susto e perguntou para o irmão mais velho o que tinha acontecido. Recebeu uma explicação de como o desenvolvimento científico e tecnológico havia se expandido rapidamente em níveis inimagináveis, especialmente no campo da informática, que antigamente chamavam de cibernética, termo criado por Norbert Wiener: “Deve-se dar ao homem o que é do homem e à máquina o que é da máquina”. Até aí ele lembrava.

Teve paciência para ouvir um pouco mais sobre significado de Facebook, Twitter, Google, Gmail, tablets, thumbnails (ordenados alfabeticamente ou por data), YouTube, plug-in, startup, Chrome, IPhone, iPad etc. Ficou espantado quando soube que foi uma garotada que bolou isso tudo, cada um deles tornando-se bilionário com os seus inventos, nascidos em grandes universidades norte-americanas.

O irmão, solidário como deveria ser, sugeriu que uma das primeiras providências a serem tomadas, quando tivesse alta, seria entrar num cinema e assistir ao premiado filme A rede social. Enquanto isso, começou uma outra longa conversa sobre o internetês. Tudo tranqs. Também não soube o que era isso.

Correio Braziliense, 12/3/2011