Seja por fraqueza das Farc , seja por negligência de seus aparatos de defesa, seja pela habilidade da equipe de socorro, seja por isso ou seja por aquilo; o certo é que Ingrid Betancourt se livrou de seis anos de cativeiro nas mãos das Farc , organização de terror da Colômbia, que age com a conhecida perversidade de suas irmãs do Velho Mundo.
Ingrid passou pelas misérias que os terroristas usam com suas vítimas. Foram mais de dois mil dias em cativeiro, nos quais atravessou as muitas necessidades com a inabalável qualidade de suportar tudo como brava heroína, nos moldes criados pelos antigos gregos. Pode-se imaginar o que foram os seis anos de tormentos vividos por Ingrid - cidadã francesa e colombiana de naturalidade . O pesadelo de Ingrid finalmente terminou, mas ela continua na luta política, tentando ser senadora ou mesmo presidente da República.
Peça-capital da política colombiana, Ingrid sabia qual papel desempenhar para salvar a democracia colombiana e o fez com inabalável determinação, dando exemplo de fé na sinceridade do povo.
É preciso ter confiança na bandeira adotada para suportar as perversidades, inclusive o desrespeito - por se tratar de uma mulher -, para julgar um ser humano que veio de longe, que adotou uma nacionalidade e que deu a vida por ela. E, num dos grandes acontecimentos de nossos dias, sobressai como figura já legendária, honrada pela sua causa, oferecendo a vida em prol do partido da paz e da democracia.
Ingrid Betancourt só não foi executada pelas Farc para não se criar um problema direto com os franceses. Ingrid tem garantida a sua eleição para o Senado colombiano e provavelmente terá, também, garantida a sua candidatura para a presidência da República, embora venha a se enganar com a democracia colombiana, que ela não conseguirá reformar.
Na realidade, seu resgate - e dos demais seqüestrados - foi um trabalho cinematográfico, nos moldes de Hollywood, já que agentes do exército se infiltraram no cativeiro onde estavam os quinze reféns. Com Ingrid foram resgatados três cidadãos americanos e onze militares colombianos.
O que é admirável é não terem falseado uma só vez sua posição de agentes internacionais, que estavam ali para preservar vidas e não para executá-las. Foi uma bela página de civismo posta a serviço da paz.
Diário do Comércio (SP) 7/7/2008