Tenho insistido nas conversas descompromissadas com os confrades da Academia Brasileira de Letras no quanto é difícil saber ler.
Há quem leia e não perceba, há quem leia e não se ilustre, há quem leia sem saber para quê. Há, assim, quem leia sem ler. Apenas vê os textos.
Certa ocasião disse isto numa palestra para estudantes da Escola SESC de Ensino Médio e arrematei que não bastava aprender a escrever era imperioso saber ler. Concluí: só sabe escrever quem lê bem.
Agora mesmo temos a prova disso com o próprio alunado daquela escola, aliás, no gênero a melhor do Brasil. Privilegiando a docência de nível e a biblioteca valiosa, os alunos procuram ler, radiografando os textos. Isso resultou, como naturalmente deveria ser, em que detivessem altos índices de aprovação em exames seletivos de abrangência nacional. E mais, notas altas em redação. Notas absolutamente diferenciadas.
O zelo com que são organizadas as pautas de leituras e a animação dedicada a discutir as obras, as escolas literárias, as inclinações estilísticas dos autores, tudo leva a que os estudantes saibam o que estão lendo e, em conseqüência, saibam redigir.
Meu pai, um modesto professor de ginásio no interior de Pernambuco, deu-me muita sabedoria, inclusive no que deveria ser o procedimento a adotar com a leitura que me favorecesse aprender a escrever: "Leia Machado de Assis". Segui indagando: "E depois?" A resposta: "Leia Machado de Assis." Compreendi que deveria ler infinitamente Machado de Assis. Não sei se o fiz bem, mas isto é outra história... Ora, o que aconteceu aos alunos da Escola SESC é que redigiram bem por conta do hábito da leitura, da fruição do acervo da bem cuidada biblioteca.
Esforço. Se as escolas de ensino médio se esforçassem - já que fazer até mesmo parecido com a Escola SESC é difícil -em seguir essa trilha de leitura, grupos de debate, apoio de biblioteca, cultivo da dissertação, a realidade do ensino básico de português seria outra.
Os órgãos gerenciadores do ensino, no Rio, tem a obrigação de frequentar aquele estabelecimento localizado nos confins da Barra, para que se orientem como fazer. Ir lá, enfrentar trânsito e distância, e se confrontar com uma obra exemplar que o País, não só o Rio, fica a dever ao Sistema S, no caso, ao SESC. Fará muito bem a todos.
Se navegar é preciso, ter a humildade em aprender com quem faz bem feito, também é preciso. E o navegar, de que fala a boa tradição dos navegadores, no alto mar ou na beira da praia, é buscar aprender.
Jornal do Commercio (RJ), 7/2/2011