A leitura é uma defesa do infinito
*
Talvez por emprestar rostos, vozes e paisagens, a leitura lança uma hipoteca sobre nossa vida.
*
Para Schlegel, trata-se de uma prática infinita, que se desdo- bra em formas infinitamente potenciais.
*
Leitura: círculo hermenêutico permeável, que jamais se fecha.
*
A arte da memória nutre-se da arte do esquecimento. Sem isso, não há espaço de leitura. Como disse Agostinho, lembra- -se da memória de esquecer.
*
Impossível elidir a memória transversal da leitura. Memória inerente que se nutre de três perguntas: onde, quando e como?
*
Inversão. Não leio Dostoievski. Não leio Graciliano. Pelo sim- ples fato de que ambos me leem quando sigo os rastros de Míchkin e Fabiano.
*
Máquina do tempo. Silêncio ruidoso. Leitura fantasmal. Os vivos seguem mortos. E os mortos, vivos.
*
Segundo Eco, a intenção tripartite: autor, texto e leitor. Não um triângulo equilátero, mas uma espiral logarítmica.
*
O coral dos leitores, atravessando séculos, amplia a música feroz das batalhas de Homero.
*
Ninguém entra duas vezes no mesmo livro. Talvez não se efeti- ve sequer uma só vez.
Leituras
Revista Humanitas, 10/12/2020