Mais uma vez, com o cuidado de sempre, a Fundação Bünge realizou o encontro dos jurados para a escolha dos vencedores dos seus prêmios, que já se chamaram Moinho Santista. Completando 50 anos de atividades, no Brasil, desta feita decidiram premiar os destaques nacionais nas áreas de Agronegócio, Educação Fundamental, Física e Romance.
O júri, presidido com lucidez pelo acadêmico Miguel Reale, hoje com 94 anos de idade, deu a vitória, respectivamente, às seguintes personalidades: Ernesto Paterniani, Terezinha Saraiva, Sérgio Rezende e Lygia Fagundes Telles, além dos quatro prêmios dedicados à Juventude (até a idade de 35 anos).
Quase 100 personalidades ganharam essa láurea, que é das mais importantes do País, visando à valorização do melhor que os brasileiros produzem, expandindo fronteiras e desbravando o novo. Isso deve ser reconhecido, para servir de estímulo à produção do conhecimento, em áreas diversificadas, nas quais devemos estar preparados para a competição internacional. É o que sempre repete o escritor Rui Altenfelder, superintendente da Fundação Bünge.
Prêmio Camões
A escritora e acadêmica Lygia Fagundes Telles tem sido, merecidamente, muito premiada este ano. Inclusive ganhou o "Prêmio Camões", concedido anualmente pelos governos do Brasil e de Portugal. Sabemos do seu relevo com conhecimento de causa. Em 1993, integramos o júri que se reuniu em Lisboa. Depois de cinco horas de debate, a escolhida foi a inesquecível Rachel de Queiroz, cuja obra era reconhecida em Portugal como uma das maiores produzidas em nosso País. Com a láurea vieram US$ 100 mil.
Outra premiada da Fundação Bünge, em 2005, foi a professora Terezinha Saraiva, figura ímpar da educação do Rio de Janeiro. Foi secretária de Educação do Estado e do Município da capital, realizando sempre trabalhos notáveis de valorização do ensino fundamental. A ela se deve a universalização do atendimento a esse nível, numa cidade-estado com grandes problemas de acesso à escola. Mobilizou suas professoras para a "batalha", encontrou respaldo, deu gratificações antes inexistentes, e tornou-se vitoriosa. Inclusive quando criou o "inspetor da obrigatoriedade escolar", acabando com as quase inexplicáveis classes ociosas. São também de sua autoria a Operação Escola e a Carta Escolar.
Pensando em Terezinha Saraiva é possível recorrer a uma entrevista concedida pelo acadêmico Rubem Alves à publicação Cidadania (no 26): "Escrevo para fazer os professores pensar. Gosto da vida. Eu vivo, gosto das crianças e de brincar, amo a natureza, gosto de escrever, para grandes e pequenos." De onde se propõe a ilação?
É que a vencedora do Prêmio Bünge de Educação foi professora na comunidade do Salgueiro, não se limitou aos cursos feitos, nem ao aprendizado que se encontra nos livros. Tomou conhecimento da realidade indo ao encontro dos seus alunos, trocando a teoria nem sempre convincente pela prática insubstituível.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 22/08/2005