O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou à imprensa que Lula não deve concorrer ao segundo mandato.
Como foram muito amigos em outras épocas menos fuliginosas do que a atual, é provável que seja sincero o conselho. Numa das revistas semanais o cardeal Arns, também amigo de muitos anos, declarou que não via a possibilidade de Lula se reeleger.
O homem comum que luta arduamente pela vida, os desempregados desiludidos, enfim, grande maioria dessa abstração sem endereço, mas que atua, o povo, é quem vai decidir o destino de Lula, se o presidente for conduzido pela esperança, que, em geral, é cega.
Tenho suficiente conhecimento da nossa História para argumentar que o povo pode julgar Lula pelo seu clamoroso, erro de ou não prestar atenção ao que se passava no seu mundo político, ou não dispor de conhecimento do que é a megera política, esse monstro sem entranhas que seduz tanta gente e tanta gente mata, coroa uns e atira outros no ostracismo, isto desde os gregos, que muito usaram a palavra.
Em suma, o presidente Lula, que chegou à Presidência sem se preparar para o mais alto cargo da República, tem mais probabilidade de perder a eleição sonhada há tantos anos do que iludir o povo sobre a sua postura na tremenda crise que atanaza o Brasil todo, como nunca antes de agora.
Na realidade, não há observador, não há jornalista que não observe em Lula um presidente acuado, com seu castelo sitiado, sem saber como agir. Está aí o convite ao PMDB, o último que ele poderia fazer às velhas raposas, que desejam sempre agir como a verdadeira de Lafontaine.
Não direi que o presidente - por eu não ser advinho, pois estudioso de São Paulo Apóstolo não os sigo nem neles creio - não está de todo perdido.
Mas a nação é o povo, do qual uma parte considerável deu voto para Lula, e que sua obrigação ética - palavra que ele tanto usa -, é de cuidar dos interesses, dos empregos, do desenvolvimento, em suma.
Como, tomado de apoteose mental, cuidou de procurar se projetar como, líder político do mundo, usando e abusando de seu Air Bus, e está na perspectiva de ser julgado, e o povo é implacável, como tem demonstrado. É o que penso da conjuntura presidencial.
Diário do Comércio (São Paulo) 07/07/2005