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Juízo final

 

Minha primeira experiência na reportagem internacional foi no início dos anos 60, uma crise na Argentina da qual resultou a prisão do então presidente Arturo Frondizi. A imprensa mundial pintava um quadro apocalíptico para o país, greves, motins, saques, fuzilamentos, miséria e fome.

Lá fui eu preparado para o pior. Tirante a prisão do ex-presidente, tudo estava nos eixos. Filas nos teatros da Corrientes para ver "My Fair Lady", restaurantes cheios de papas fritas e a bela carne portenha, gente cantando no Caminito, à noite os cabarés transbordando milongas e dores de corno homicidas.

Pouco depois, com o sequestro e morte do primeiro-ministro italiano Aldo Moro, novamente a mídia mundial pintou um novo armagedon. Em Roma, conflitos na via del Corso, incêndio de cinemas, o Partido Comunista derrotaria a Democracia Cristã e o papa seria mandado para Madagascar.

Fui entrevistar Enrico Berlinguer, chefão do maior Partido Comunista do Ocidente. Estava na porta da igreja de Gesù, onde fora levar a mulher para comungar.

Ele não entrava no templo, que era vizinho à sede do partido, na via delle Botteghe Oscure, mas se persignava quando o padre dizia que a missa já era.

Reparo que a mesma mídia internacional começa a pintar um quadro de juízo final, crises em toda parte, falências, prisões, corrupção, Bolsas despencando, suicídios programados.

Não acredito que a crise seja econômica. É apenas política.

Dinheiro existe e dá mais ou menos para todos. Basta imprimir e distribuir com critério. As quedas não são de moeda, mas de impulsos eletrônicos que congestionam as Bolsas e os bancos centrais.

A elite política socorre bancos e agências que gastam muito e mal, cobrindo buracos criminosos e penalizando as nações com a falta de investimentos e miséria.

Folha de São Paulo, 16/8/2011