Há invenções das quais ninguém ouviu falar, nem mesmo do nome do inventor, e que, no entanto, mudaram a face da terra. Cita-se sempre a roda, que os gaiatos atribuem a um português, mas não têm provas. Outras invenções entraram nos hábitos cotidianos e tornaram mais cômoda a vida e ninguém ouve falar do seu autor.
Uma invenção que mereceria uma pesquisa paciente é esse Caixa 2, que acaba de abater um presidente de partido. Quem inventou o Caixa 2? Perguntei ao competente economista Marcel Solimeo o que é Caixa 2, e ele me explicou academicamente a sua estrutura.
Confesso que reconheço uma ponta de genialidade em se ter meios para várias despesas sem figurar na contabilidade geral da empresa. Não sei de empresas que tenham ou não tenham Caixa 2. Mas, generalizado ou não, o Caixa 2 está tendo na CPI um progresso relevante.
Já fizeram comédias para o teatro, artigos para os jornais, pesquisas de várias ordens para ser conhecida a opinião geral sobre esta invenção, mas ninguém tem o nome do seu inventor. É uma pena, pois se trata de uma astúcia bem planejada, embora à margem da lei, do Fisco e de outros impedimentos.
Tenho para mim que deve ter sido seu inventor um contabilista imaginoso, ou um executivo perseguido pela alta taxa de juros, pois se trata de uma maneira hábil de competir com o Fisco na obtenção de recursos.
O fato é que o Caixa 2 é uma realidade que deveria ser institucionalizada para uso e gozo da política fiscal do governo. Não entro no mérito, por assim dizer, da sua filosofia, pois uma filosofia verdadeira não se envolveria com artimanhas de caixas de empresas que preferem essa via à rigorosa normalidade. Apenas lamento que eu não tenha o nome do inventor do famoso Caixa 2. Seria digno não de um Prêmio Nobel, mas de um prêmio cômico chamado Ig-Nobil.
Diário do Comércio (SP) 28/10/2005