Nas festas do 10º aniversário do Prêmio Marcantonio Vilaça senti necessidade de dizer assim: Somos gratos à Confederação Nacional da Indústria. A CNI, ao tempo de Armando Monteiro, concebeu esse Prêmio, no plano das artes plásticas, com o seu empenho pessoal.
Agora, com o impulso arrebatador de Robson Andrade, consolida-o definitivamente. Saudável gesto do empresário brasileiro que articula através do sistema Sesi/Senai, educação e diferentes contextos culturais. Sem essa aliança não é possível dar educação e realizar cultura de forma adequada.
Louve-se a visão compreensiva e empreendedora do industrial brasileiro. A classe, nos tempos atuais até encerra um certo heroísmo ao enfrentar corajosamente a grande necessidade de produtividade sistêmica, que venha a se realizar apoiada em infraestrutura, honesto controle de contas públicas, desburocratização, reforço à logística, enfim redução do “Custo Brasil”.
Sem esses pressupostos não há Brasil, apenas meio-Brasil. Não é o que Marcantonio desejaria, um meio-Brasil. Quando ele se foi ainda vivia uma certa juventude, limpa de premonições e sem contabilidade de anos vividos ou por viver. Cultivando o empírico e o puro, fez uma astuciosa travessia por novas diagonais da compreensão da arte, como se estimulasse, a pleno, o diálogo delas e delas com os homens.
Ele agia, particularmente no Exterior, em gestos patrióticos de valorização do que é nosso, sem patrioteira mas com patriotismo. Sabia que sem ação a vida não se representa. Compreendia como conduzir o processo da sua intercomunicação humana em fidelidade completa às convicções com que se orientava.
Aquela garra do seu caráter tinha uma gramática legível, a compreender a aventura da significação e a espessura do fazimento. O poeta Da Costa e Silva disse que o tempo é curto para o sonho dos homens e que saudade é a asa de dor do pensamento. Pura verdade. O tempo foi curto para o que sonhou. Fez muito todavia sonhou muito mais. E a asa de dor ficou conosco.
Se tudo começa de novo quando tudo se acaba, a mãe de Marcantonio sempre está a recomeçar Marcantonio. O pai, os irmãos e os sobrinhos acompanham Maria do Carmo. E como lágrimas não tem sotaque, para agradar a Marcantonio temos que dizer que nossas lágrimas são lágrimas pernambucanas. Mais que lágrimas, um sangramento contínuo, como é possível aos que pertencem a uma terra de heróis.
Somos gratos a quem compreendeu tudo isto, em especial aos artistas consagrados ou em consagração, aos críticos de arte sempre muito atentos, aos editores de arte, aos dirigentes do aparato cultural como é o caso de Vera Tostes, de Claudia Ramalho, de Marcos Lontra, de tanta gente tão generosa conosco, os Vilaça.
Já ouviram falar que pernambucano só se curva para agradecer? É verdade. Pois sintam que estamos curvados
Diário de Pernambuco, 15/6/2014