Este governo está tendo de fato muitos tropeços, mas é arriscada a aposta da nova oposição de que ‘não vai dar certo’ e, por isso, o melhor é ficar bem longe do fracasso.
Com a troca de posições — os governistas passando a oposicionistas e vice-versa —, as torcidas estão meio confusas. Por exemplo, diante do panelaço contra a entrevista de Michel Temer no “Fantástico”, ouvido em pelo menos sete cidades e em 14 bairros do Rio, o que dizem os que desclassificavam esse tipo de protesto como coisa dos “coxinhas”, da “elite branca”? Um desses atos chegou a tirar a paciência da discreta Dona Marisa, que, num áudio famoso, mandou enfiar as panelas onde definitivamente não cabiam. Ao mesmo tempo, por que abandonar um modelo de manifestação com tanta visibilidade só porque foi inventado pelos adversários? Às favas a coerência. Também está sendo difícil aos “temeristas” (ou “temerários”?) justificar as incertezas do novo governo na formação de seu Ministério, ora nomeando, ora desnomeando. Isso quando não há o recuo do recuo, como no caso da Cultura, que de ministério passou a anexo da Educação; depois, com a reação do setor, virou secretaria e, finalmente, uma secretaria a ser dirigida por uma mulher. Até o fim deste artigo, ainda se procurava uma secretária. Tomara que o nosso interino consiga uma Maria Silvia Bastos Marques para o cargo, como conseguiu para o comando do BNDES.
Este governo está tendo de fato muitos tropeços, mas é arriscada a aposta da nova oposição de que “não vai dar certo” e, por isso, o melhor é ficar bem longe do fracasso, pelo qual está torcendo. Mas, e se der certo, qual vai ser a “narrativa” (para usar o mais recente modismo da política), já que a do “golpe” vai estar desgastada e a de que “vão acabar com os programas sociais” pode ser desmentida? Ser do contra, por princípio, é uma forma estéril de radicalismo. Ao adotar essa posição incondicional, o PT ficou mal na foto em vários momentos importantes, como no caso da eleição de Tancredo Neves, em que chegou a expulsar os que desobedeceram à ordem de não votar. Ou quando foi contra o Plano Real, a privatização da telefonia, a Constituição de 1988, que não assinou, entre outras decisões equivocadas que acabaram obrigando o partido a ficar se explicando perante a História.
Nesse sentido, a posição mais pragmática talvez seja a do empresariado, que está otimista e oferece ao governo provisório apoio, mas também provisório, com prazo de validade. Ou seja, o discurso de boas intenções dos que estão chegando é bem-vindo, mas tem que se concretizar na prática. Questões como o ajuste das contas públicas e a reforma trabalhista e, principalmente, a previdenciária, precisam ser, senão resolvidas, pelo menos equacionadas. Chega de diagnóstico, é urgente o tratamento.