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Homem múltiplo

 

É difícil administrar a educação numa cidade do porte de São Paulo. A população é altamente expressiva, com bolsões de atraso em boa parte fruto da migração interna muito intensa, sobretudo do Nordeste. Mesmo assim, o médico, educador e pesquisador José Aristodemo Pinotti utiliza toda a sua experiência, que não é pouca, para encontrar as melhores soluções que atenuem a gravidade dos problemas encontrados. Ele foi reitor da Unicamp, com brilhante atuação, razão pela qual nada lhe é estranho, nessa área, onde tem ainda a vivência da presidência do Instituto Metropolitano de Altos Estudos, cujas pesquisas têm se revelado muito positivas na conquista da qualidade entre os alunos da UniFMU.


Nada se faz, no entanto, sem sacrifício. O dr. Pinotti tem a imagem de homem público, sem perder a de grande cirurgião. Se as suas idéias não podem ser combatidas por inimigos políticos, a estes resta o apelo a um argumento inteiramente pueril: ele não deveria ser Secretário Municipal de Educação. Se ainda fosse saúde... As coisas não podem ser resolvidas de modo tão simplista. Por que não pode um grande médico, com a experiência de educador, dirigir uma secretaria, quando é sabido que ele domina toda a sua área como poucos antecessores?


Dr. Pinotti encontrou 52 escolas de lata, sem computadores e recebendo apenas merenda seca; 70% das escolas com três turnos diurnos; falta de 8.000 professores; permissão legal aos funcionários de tirarem até 7 dias de licença, todos os meses, com um simples atestado médico ou de dentista. O número de licenças por saúde em 2002 era de 6.274 e passou para 37.352 em 2003.


A queixa principal dos alunos era falta de professores e os 21 CEUs tinham, praticamente, todas as contas por pagar desde junho de 2003 e as creches (CEIs) deixaram de atender a 6 mil crianças.


Em 2001, o analfabetismo de menores de 15 anos em domicílios com menos de 1 salário era de 29% e o IBGE descobriu, este ano, mais de 50% de analfabetismo funcional na população adulta.


Segundo a última avaliação da Educação Pública da Região Metropolitana de São Paulo pelo Saeb, em 2003, menos do que 4% das crianças estavam em condições adequadas de aprendizado em Português e Matemática e 50% delas em situação "crítica" e "muito crítica", apesar do excelente corpo docente, boas escolas e 31% do orçamento da Prefeitura de São Paulo. Um paradoxo difícil de entender.


Não adianta fazer uma coisa de cada vez, a dívida com a Educação em São Paulo é grande e antiga; não adianta ir devagar. Se não começar tudo no primeiro ano, a história mostra que não dará tempo; não adianta tentar simplificar uma questão que é complexa. Não adianta querer contentar a todos e não quebrar alguns ovos, é impossível ser patriota e popular ao mesmo tempo e já são sentidos os resultados de algumas medidas tomadas na SME - SP: eram 31 coordenadorias e hoje são 13; 800 professores foram devolvidos às salas de aula e aboliu-se a permissividade das licenças que, de 12.000 por mês, caíram para 114. Foram contratados 7.000 professores, devendo se iniciar o ano letivo de 2006 sem falta de professores. Quatorze escolas de alvenaria foram entregues às comunidades, substituindo as de lata, com economia de 13 a 48% por m2. Dessa forma, o dr. José Aristodemo Pinotti confirma toda a competência granjeada em tudo o que faz. É digno de todo o nosso respeito.




Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 18/12/2005

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), 18/12/2005