Entre as diversas denominações das histórias infantis, além de histórias de Trancoso, assunto visto em artigo anterior, vamos tratar da expressão histórias da carochinha.
“Carochinha”, herança que recebemos de Portugal, se aplica a diversos sentidos, entre os quais nos interessa hoje o de ‘baratinha’.
O termo “carochinha”, atrelado à imagem de “uma velha bondosa e afável a distrair os pequenos com suas narrativas feéricas”, foi introduzido no nosso folclore através da obra Histórias da Carochinha, uma coleção de textos oriundos da tradição oral, organizada por Figueiredo Pimentel e que veio a ser o primeiro livro infantil publicado no Brasil, depois de 1920, para acalentar as crianças.
A iniciativa para termos livros impressos em nosso próprio país devemos ao dono da Livraria Quaresma, Pedro da Silva Quaresma, que desejava trazer ao Brasil livros com histórias de cunho popular e valor acessível. Com o surgimento das Edições Quaresma, encomendou a Alberto Figueiredo Pimentel, já naquele tempo famoso entre nós, uma série de livros com histórias para crianças.
De acordo com Câmara Cascudo, Pimentel traduziu, organizou e registrou várias histórias, tornando-se assim “o popularizador da literatura infantil”.
Monteiro Lobato, talvez o maior representante do gênero, em Reinações de Narizinho retrata “carochinha” como “uma velha baratinha de mantilha, sempre enfezada e mal-humorada com os personagens de suas histórias, pois esses estão fugindo dos seus livros”. E assim ficou popularizada em nosso folclore a “D. Baratinha”.
Como falamos em histórias, cabe aqui uma lembrança de João Ribeiro, no seu livro O folclore (1919), sobre as duas grafias do inglês history e story, a primeira aplicada à história científica e a segunda à história inventada; propondo, respectivamente, as grafias história e estória.
A sugestão do mestre, mesmo não tendo sido vitoriosa na língua, foi adotada por alguns folcloristas, entre os quais se destaca Luis da Câmara Cascudo (Dicionário do folclore brasileiro, 1972).