Minha opinião pessoal não conta, nem por isso dispenso-me de expressá-la. Não aprecio o jornalismo dito investigativo, que está em moda e provoca desenfreada concorrência entre jornais, revistas, rádios e TVs.
O lado mais evidente desse tipo de jornalismo confunde-se com o do policial, com a mesma parafernália (gravações, ciladas, disfarces etc.), sendo a mais constante a turma dos alcagüetes, que recebem o batismo profilático de "fontes" -sobre as quais é garantido o sigilo.
Seus praticantes acreditam que prestam um serviço à sociedade, mas, na maioria dos casos, prestam serviço a si mesmos e às empresas para as quais trabalham.
Não confundo, porém, o exercício puro e simples da função de jornalista com a de detetive emboscando suas presas, rastreando pistas muitas vezes falsas, mais tarde demolidas pela polícia ou pela Justiça.
Dou o belo exemplo da jornalista Renata Lo Prete, responsável pelas duas entrevistas com o deputado Roberto Jefferson, ponto de partida para o escândalo do "mensalão". Ela cumpriu, bem e unicamente, seu papel de entrevistadora, não pressionou nem chantageou o entrevistado, foi fiel ao que ele disse - e basta.
Quanto aos jornalistas investigativos, comeram suculenta mosca profissional. O "mensalão" existe há pelo menos dois anos, era assunto de comentários gerais no Congresso e fora dele. Desde o caso da compra de votos para o segundo mandato de FHC, sabia-se que corria dinheiro em votações importantes.
Esse tipo de jornalismo ou foi incompetente em sua função de investigar, ou omisso - o que equivale a um certo tipo de cumplicidade. Resumindo: dois dos maiores escândalos dos últimos tempos foram revelados a jornalistas que apenas ouviram declarações prestadas livremente pelos interessados: o caso de Pedro Collor, que deu origem ao impeachment do irmão; e agora o de Roberto Jefferson, que não sabemos ainda no que vai dar.
Folha de São Paulo (São Paulo) 11/07/2005