Batemo-nos, quanto foi possível, contra a reeleição. Objeto da ambição política do então candidato Fernando Henrique Cardoso, sob o pretexto que quatro anos eram pouco para a obra que ele realizaria no poder. Acabou ganhando, por isso que todos os políticos sonhavam com o direito de se candidatarem pela segunda vez e ganharem mais um mandato. Usariam o poder, que é imbatível, se bem conduzido. O candidato eleito FHC ganhou. O outros querem ganhar.
A prefeita Marta Suplicy também quer mais um mandato. Não teve medidas para aumentar impostos e taxas, partiu para as obras publicas grandiosas, como essas CEUs, que são monumento de injustiça, pois contemplam no seu recinto apenas os afortunados que chegam às matrículas, enquanto milhares de meninos e meninas ficam de fora, tendo aulas em galpões sem conforto nem proteção. Mas ela quer porque pensa ter sido escolhida pelos deuses para ser prefeita e, quem sabe, governadora e presidente.
Dois fatores se unificam para justificar os oito anos de mandato, a vaidade e a ambição. Amparados num e noutro, os candidatos se lançaram com todas as forças para terem o direito de disputar duas vezes o mandato e ganhar o que não supunham, até que Fernando Henrique Cardoso conseguiu o que desejava, e teve para fazer uma grande obra, que, afinal, não realizou. Ferida foi a tradição republicana, mas quem liga para esse estorvo, que se remove com um ponta pé? Ninguem, como está provado.
Estamos vendo até onde conduz a reeleição, motivo porque deveria ser retirada da Constituição a emenda que permitiu a reeleição e cada candidato se contente com os quatro anos, que é tempo suficiente para fazer grandes obras e boa administração, desde que trabalhe com afinco e poupe ao Estado o espetáculo deprimente da burocratização por atacado, como ocorreu há poucos dias, com a conivência do Senado. Indispensável essa iniciativa, não vencerá, porém, por não coincidir com a ambição política.
Diário do Comércio (São Paulo - SP) 19/05/2004