Há mais de um mês, a mídia vem se dedicando aos escândalos provocados pelo PT, escândalos provados e não supostos, mas com supostas responsabilidades e supostas tramas. Um barulho real que não é suposto mas que talvez resulte num suposto nada.
Não é de hoje a desproporção entre grandes causas e pequenos efeitos. Há exceções, é claro. O crime de Toneleros, em 1954, provocou barulho e terminou no suicídio de um presidente da República. Anos mais tarde, um irmão que denunciou o irmão, entre outras coisas por se julgar ameaçado na vida conjugal, acabou no impeachment de outro presidente.
São exceções, repito. Prevalece o abismo entre o escândalo e a sua solução. E, mais freqüentemente ainda, a diluição do escândalo na normalidade de nossa vida pública.
Atribuir a culpa desta rotina de esquecimento ao povo, que facilmente se cansa de qualquer assunto por mais emocionante que seja, é parte da explicação. A outra parte, a maior parte por sinal, é da própria mídia, que busca assuntos espetaculares e, quando encontra um, deita e rola, cansando o consumidor e ela própria, mídia, perdendo o rumo central, desviando-se da linha principal e esmiuçando detalhes que nem sempre têm a ver com o caso, além de não serem sequer emocionantes.
Há também o critério editorial que geralmente revela o interesse de determinado veículo, jornal, rádio ou TV, em acusar ou defender alguém ou determinada causa. Não faz muito, um jornal abriu oito páginas compactas sobre um caso em Campos que envolvia dois políticos fluminenses. Parecia que o mundo vinha abaixo. Pouco depois, uma liminar da Justiça reduziu a dimensão do suposto escândalo a uma nota de dez linhas perdidas no noticiário banal da cidade. O Brasil merece que os escândalos dos Correios e do mensalão não tenham final parecido.
Folha de São Paulo (São Paulo) 21/07/2005