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A Glória de Krenak

 

Com 23 votos, o filósofo Ailton Krenak tornou-se o primeiro indígena a ser eleito para a Academia Brasileira de Letras. Derrotou a historiadora Mary Del Priore (12 votos) e o também indígena Daniel Munduruku (4 votos). Sua vitória foi muito festejada, marcando mais um ponto para a política de valorização da diversidade, adotada pela Casa de Machado de Assis.

Krenak, nascido em Minas Gerais, é autor da trilogia composta por “Ideias para Adiar o Fim do Mundo”, A Vida não é Útil” e “Futuro Ancestral”, em que defende com brilho as suas posições na linha indigenista.

Em 1987 participou ativamente das demandas constitucionais, como representante da União das Nações Indígenas. Deu diversas sugestões ao relator Bernardo Cabral.

Tida como uma instituição conservadora, a ABL, sob inspiração da Academia Francesa, tem dado importante contribuição à cultura brasileira, enfrentando modismos poderosos como o modernismo e o tropicalismo. Agora, ela se abre para antes improváveis candidaturas, como as que representam o negro e o feminismo.

De maneira elegante, o outro indígena candidato, Munduruku, hoje presente numa telenovela da Globo, felicitou a vitória de Krenak, e afirmou : “Ele é um poeta, tem uma visão muito apropriada nesse momento em que o mundo está preocupado com meio ambiente e a mudança climática. Tudo isso está embutido na sua vitória.”

Sem dúvida, a pauta indígena ganhou um grande reforço. Enquanto isso, Krenak se prepara para o lançamento de mais um livro: “Um rio, um pássaro”, em que aconselha que sejamos como um pássaro, que pousa em silêncio e volta aos céus sem deixar rastros.” Ocupará a cadeira nº 5, que pertenceu ao historiador José Murilo de Carvalho, falecido em agosto último.

O propósito de Krenak é claro: “Quando a Academia acolhe um sujeito vindo dessa constelação de povos, está admitindo um debate sobre essas superestruturas coloniais que estão aí. Mesmo morando na Reserva Indígena, no município de Resplendor (MG), Krenak, que já pertence à Academia Mineira de Letras, espera participar ativamente das discussões que virão por aí.

Tribuna do Sertão, 19/10/2023