Em doze anos seguidos aqui neste espaço, nunca deixei de lembrar, a cada 3 de fevereiro, o Dia de São Brás, epíscopo e mártir, como informa o calendário religioso. Existem numerosos epíscopos e mártires dos quais não lembro nem a data nem os feitos.
São Brás é diferente, porque nos protege a garganta e nos livra de outros males. A rouquidão permanente, como a do nosso presidente, seria um desses males. Recomendo-lhe uma prece ao santo do dia, sem desmerecer outros cuidados médicos, como gargarejos, pastilhas de hortelã e economia vocal para ajudar são Brás a ajudá-lo.
Já lembrei, em anos passados, que antigamente havia muitas sufocações, ia-se a um restaurante, de repente, um sujeito levantava-se da mesa, apoplético, mão na garganta, sem ar, engasgado com um osso de galinha, uma espinha de peixe, às vezes com um simples gole de água
Nem era preciso chamar a ambulância. Alguém acudia o sufocado, invocando são Brás, mas com um adjutório indispensável: concomitantemente aos apelos em altos brados ao santo, dava seguidas porradas nas costas do infeliz, não sei por que, sempre de baixo para cima e nunca de cima para baixo. Até o advento da penicilina, nunca houve remédio tão eficaz.
Lembrei igualmente, em crônicas antigas, um espanhol cujo nome nunca se soube, mas que atendia pelo apelido de Arranca. Diziam que havia matado um padre em Segóvia, durante a Guerra Civil. Sua porrada era fulminante, nem precisava dar duas, uma só era bastante.
O brado que dava, clamando por são Brás, era também medonho. Salvou a muitos, menos a um tal de seu Werner, um suíço que se entupiu com um caroço de ameixa. Não morreu sufocado, mas de graves complicações nas costelas avariadas.
Folha de São Paulo (São Paulo) 03/02/2005