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Frente à explosão do anticlimax

 

Não lemos precedente, desde a volta ao estado de direito, da soma de crises a confrontar, hoje, todos os poderes da República, nem de um começo de ano em que o recesso institucional leve tão longe a tensão da espera. No aguardo deste janeiro, deparamos uma possível explosão do anticlímax. Vamos enfrentar a aluvião das denúncias de Cunha, pelo Ministério Público, e o pedido da cassação do seu mandato. O Supremo, com nitidez indiscutível, abriu caminho, por outro lado, ao julgamento peremptório do impeachment de Dilma pelo Senado e eliminou todo o poder de barganha da Câmara nessa tramitação. Doutra parte ainda, o senador Acir Gurgacz manifestou-se pela aprovação das contas de Dilma pelo Legislativo, em claro confronto com o voto do Tribunal de Contas. Irão, essas decisões, a um somatório ou vão se contra-anular após o Carnaval? 

O que se verifica, de saída, após a decisão do Supremo, é a absoluta perda do poder de barganha de Cunha para manter-se à frente da Câmara. Espanta, de qualquer modo, a formação da trama de interesses do presidente, criando uma aliança, inclusive intrapartidária, e cooptando minipartidos, via de regra, acantonados com o Planalto. 

Não resta dúvida, também, do peso de Dilma na Câmara Alta e da margem de negociação do seu presidente, refletidos na quase saída de cena, hoje, de Michel Temer e da viabilidade de uma substituição no Planalto. Só cresce o torpor das ruas, como o mostram as manifestações por Dilma, bem superiores à de grupos como o "Vem pra Rua", da oposição. Já se evidenciam, também, a favor do situacionismo, os rachas do PSDB e o desponte das facções e minifacções no entredevoramento das iniciativas. Nitidamente, o impeachment perdeu o embalo político, frente à nova composição ministerial e à melhoria da popularidade de Dilma. Tal como só se amplia o revisionismo, do alegado delito das pedaladas, tanto quanto a primeira tarefa de Barbosa, no Ministério da Fazenda, é a da aposta, mesmo pela via de risco, de um ganho na pretendida nova liquidez orçamentária. De toda forma, há um timing para a explosão das impaciências coletivas. E ele não passa mais pelo impeachment de Dilma, mas sim pelo abate de Cunha, de vez. 

Jornal do Commercio (RJ), 08/01/2016