A erupção da violência na França foi assunto obrigatório em todas as latitudes do planeta. É a doce França falando para o mundo sobre a forma de choques ideológicos, as contradições do mundo moderno em face de sua tradição matizada de sangue, na defesa das liberdades, do ideal de igualdade e fraternidade, contra os quais se levantam forças decididas a abatê-las.
A sua recente crise é uma ignóbil reação contra tudo o que foi feito em sua luta de vários séculos. Decisões drásticas não se inscrevem em sua tábua de valores, que são respostas de tolerância, de amor ao próximo e defesa das opiniões vivas.
A crise pela qual passa esse belo país, tão amigo do Brasil, que está festejando agora mesmo, um ano de brasilidade, está por terra, por obra de inimigos tenazes que como, se vê, vêm da noite dos tempos.
Na realidade, não se pode dizer que a França está perdendo a luta na qual se aplica historicamente. Quem está perdendo é o mundo moderno, com os seus fundamentalismos racionalistas e destruidores, que semeiam o pavor, o terrorismo e a absoluta refutação da solidariedade. Este é um dos dogmas da cultura e civilização francesa.
Como grande amigo e cultor à distância de seus ideais, o Brasil acompanha a sua paixão atual com o maior interesse; que ela saiba enfrentar mais uma crise com as forças vivas de que dispôs historicamente em todas as ocasiões similares às atuais.
Não se pode dizer que a França está perdendo a batalha, mas que está, sim, acorrilhada para manter aceso o fogo de seus altíssimos ideais, simbolizados na Estátua da Liberdade, presenteada aos EUA.
Desejamos que a França se salve e constitua, como sempre constituiu, uma alta luz contra as trevas que ameaçam a civilização.
Diário do Comércio (São Paulo) 24/11/2005
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